05 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Por que Tarcísio tem medo da PF?


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O governador Tarcísio de Freitas protagonizou uma jogada, no mínimo, peculiar ao licenciar seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, para assumir a relatoria do PL Antifacção na Câmara dos Deputados.

O desfecho foi uma trapalhada legislativa rara, mesmo para os padrões de Brasília. Idas e vindas, pressões e recuos que produziram seis versões diferentes do texto original. Ao fim, o projeto aprovado fez o oposto do que prometia: ao invés de sufocar financeiramente o crime organizado, estrangulou a atuação da Polícia Federal. A ver como o Senado vai resolver essa lambança. Se esse era o objetivo de Tarcísio ao despachar seu braço direito na segurança para Brasília, só ele é capaz de dizer. Mas uma coisa é evidente: 2025 foi o ano em que no entorno do governador de São Paulo se viu repetidamente exposto em operações da Polícia Federal, em um cerco que se fecha um pouco mais a cada nova descoberta.

A investida mais recente foi a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. Pouca gente sabe, mas Vorcaro é cunhado de Fernando Zettel, o maior doador pessoa física da campanha de Tarcísio, responsável por aportar R$ 2 milhões no projeto eleitoral do governador. Feitas as apresentações, vamos ao que interessa de fato.

Logo no início do mandato, Tarcísio comandou uma das maiores privatizações do Estado, com a venda da Emae para o Fundo Phoenix. Concretizado o negócio, o Phoenix investiu R$ 160 milhões em CDBs do Letsbank, que pertence ao Master, justamente o banco da família do maior financiador da campanha do governador.

Uma operação bastante suspeita, que só veio à tona agora, com a prisão de Vorcaro pela Polícia Federal. E esse não é o único ponto de pressão sobre Tarcísio. Outras duas pessoas conectadas ao governador também se tornaram alvos recentes da PF, acusados de envolvimento em esquemas de lavagem de dinheiro para o PCC.

Diogo Costa Cangerana, que atuava na segurança direta de Tarcísio, foi preso em uma operação que mirou fundos de investimento e fintechs que operavam na Faria Lima a serviço da facção criminosa. Já a pecuarista Maribel Golin, segunda maior doadora pessoa física da campanha do governador, com um desembolso de R$ 500 mil, aparece em ao menos quatro transferências financeiras para um suposto integrante do PCC.

São episódios que, isolados, poderiam até passar por acidentes de percurso. Mas, somados, revelam um padrão que corrói silenciosamente o discurso de eficiência que Tarcísio se esforça em cultivar - ainda que as grandes obras de seu governo só foram possíveis até aqui graças ao aporte do Governo Federal. No mais, o que sobra são privatizações e pedágios em estradas.

Quando operações da Polícia Federal se acumulam, doadores de campanha aparecem em esquemas milionários e figuras próximas são arrastadas para investigações pesadas, não se trata mais de má sorte, mas de ambiente político. E o ambiente construído pelo governador começa a mostrar rachaduras profundas

Se o ritmo das investigações continuar, Tarcísio pode descobrir que não são seus adversários que ameaçam sua reputação, mas o próprio enredo que se desenrola à sua volta, capítulo após capítulo, pondo em xeque a sua credibilidade já bastante arranhada.

Mário Maurici de Lima Moraes é deputado estadual e jornalista