07 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O café do senhor seu pai


| Tempo de leitura: 3 min

Anton “Bert” Hellinger, psicoterapeuta alemão e organizador de uma metodologia terapêutica baseada nas suas observações e estudos sobre as relações familiares e seus efeitos na vida adulta, explicava que somos “mais ou menos 50% da nossa mãe, 50% do nosso pai e algo mais”. Para uma pessoa metódica como eu, fora o valor das porcentagens que são matematicamente questionáveis, me incomodava como poderia surgir o “algo a mais” nesta mistura.

Recentemente, minha mentora explicou-me a mesma situação do modo que é feito com crianças que já possuem a ótica sistêmica incorporada na educação escolar, uma forma mais didática e elucidativa: Tomemos três copos: o primeiro com leite, que representa todo o potencial de vida que herdamos da nossa mãe.

Não se trata somente do material genético, mas também os comportamentos, as histórias e expectativas sobre a nossa existência, que se iniciaram um bom tempo antes mesmo de nascermos.

Da mesma forma, no segundo copo temos um tanto de café preto, representando a parte do nosso pai, com suas suposições, crenças e mesmo as suas fragilidades.

Sem julgamentos sobre o que é “melhor” e o que é “pior” de cada um, recebemos as duas partes integralmente, de ambas as forças que, como já adivinharam, são misturadas para compor o conteúdo do terceiro copo que imaginamos, inicialmente vazio, que recebe a tradicional mistura “café-com-leite” que, na nossa alegoria, somos nós mesmos.

Primeira surpresa: o sabor da mistura, única, era algo diferente que nem o leite maternal e nem o café do senhor seu pai esperava que surgisse: “café-com-leite” era o “algo a mais” que transcendia o valor de proporções e mostrava genuinamente a nossa individualidade, mesmo que tudo o que nos componha, física e energeticamente, já tenha sido reproduzido e validado na vida dos nossos genitores.

No entanto, o mesmo “Bert” nos ensina que para brilhar na nossa individualidade devemos ter a consciência dessa herança. Valorizar e aceitar a nossa raiz é a maneira de trazer o viço para os ramos, aquilo que é produto e marca do nosso “algo-a-mais”.

Neste mês de novembro, onde relembramos a importância da saúde masculina, o que poderia ser mais saudável do que lembrar dos dons masculinos que temos à nossa disposição, mas que por vezes a incompreensão nos priva de “tomar” integralmente?

A energia masculina, trazida pelo homem que se prontificou a nos doar a vida, é a responsável pela coragem de arriscar e empreender. A coragem, uma virtude que é há muito valorizada, encontra no masculino a sua forma mais popular, enfrentando obstáculos, vencendo resistências e triunfando depois de um longo olhar estratégico sobre um cenário.

Entendam bem, essa força está presente em cada um de nós, independente da escolha de gênero e suas preferências. Trata-se da parte mais ativa e quente do sistema energético de cada ser, a parte “yang” de toda a polaridade. Receber e aceitar a presença paternal em si é abrir-se para o potencial pleno desta energia.

Curiosamente, um dos representantes hormonais desta mesma energia, a testosterona, hormônio essencialmente masculino que promove essa sensação de enfrentamento e disposição ao risco, é presente e necessário também nas mulheres, em quantidade menor que na versão masculina, mas também indispensável nelas.

Sem surpresa, não é? Afinal, cada um deve ter um tanto da própria mistura vinda do “café do senhor seu pai”.


Dr. Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura, com formação em medicina chinesa e osteopatia