06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

COP30 e os equívocos da preservação em Jundiaí


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Nos anos 1950 /1960, quem fosse para Itupeva, então bairro de Jundiaí, pela Sorocabana em suas marias fumaça em dias de chuva, poderia passar por uma experiência insólita, se não fantástica. Nas áreas que hoje é o Distrito Industrial, a locomotiva pesada de ferro e aço navegava surrealistamente nas águas transbordadas do Rio Jundiaí em um lago imenso.

Diminuía a velocidade, o que deixava a experiência mais agradável e possível de ser apreciada. A fumaça da caldeira e o vapor passavam pelas janelas e dispersavam no céu, quilômetros alagados vencidos vagarosamente.

Essa história inusitada termina com o fim da sorocabana em 1971. E a transformação da linha férrea na Avenida dos Ferroviários.  Implantar avenidas em Jundiaí parece ter início com o projeto da Avenida Jundiaí, que ligava a Anhanguera à rua Petronilha Antunes, do arquiteto que fez o projeto de planejamento do trevo, Festa da Uva e Bolão, num bom projeto urbanístico que não removeu matas nem mananciais que estavam no espigão da cidade. O arquiteto e prefeito Vasco Venchiarutti, isso em 1953.

As sucessivas avenidas projetadas na Secretaria de Planejamento, tiveram um motivo que foi defendido com técnica e oportunidade:  os fundos de vale. Coincidentemente sobre as áreas de preservação permanente, que se não estavam naturalmente preservadas deveriam ser recuperadas e plantadas. Não foi!

Assim, o córrego do mato está na Avenida Nove de Julho, que poderia ter o desenho determinado pela lei, respeitando as áreas da mata ciliar, com um ganho social, ambiental e paisagístico fantásticos, hoje destruídos, estão ocupadas pelos leitos das vias.

As marginais do Rio Jundiaí, Córrego das Valquírias e Avenida 14 de Dezembro, por exemplo. De todas relativamente recentes, nenhuma cumpriu a recuperação das matas ciliares, ao contrário, ocupou essas áreas para a própria avenida. Não se trata de não fazer as avenidas!

O que não poderia ser feito, e continua sendo feito, é ocupar áreas previstas para serem respeitadas no Código Florestal. Esse prolongamento da Avenida Frederico Ozanan, que ainda não foi concluído. É um caso evidente porque anteriormente estava sendo recuperado suas áreas de mata ciliar e hoje está ocupada pela avenida que vai até a UNIP e não sei até onde será executada.
Não fizemos o que precisa. Arquitetos e urbanistas são evidenciados como responsáveis na matéria publicada pelo CAU, em sua revista Móbile 10 anos, intitulada “Cidades Médias do Interior Paulista: o que precisamos fazer para que se tornem mais resilientes?”.

Renata Bovo Peres critica o planejamento urbano de grandes avenidas: “do tempo, lógicas comuns, envolvendo canalização de rios; construção de avenidas marginais em fundos de vale; alta impermeabilização do solo; retirada da cobertura vegetal. Canalizar, para justificar a ocupação por avenidas, urbanizações e edifícios”.

Ali se confirma que não foram medidas implementadas sem planejamento urbano. Ao contrário, foram opções de planejamento pautadas por decisões de engenheiros, arquitetos e urbanistas, construtores, políticos e demais atores urbanos.

Assim temos o mapa que está no google, com todas as margens de rios e das áreas alagáveis tomadas por ocupações industriais e em processo de urbanização oficial e incontrolável. Tudo aprovado e obedecendo leis que contrariam as leis ambientais e que poderiam dar uma outra cara para a cidade.

Seria importante reverter imediatamente o que ainda é possível e voltar a fazer Planos Diretores prevendo a longo prazo que as matas ciliares dos rios restauradas voltassem e em outros lugares que possam ser alagados como a natureza definiu e nomeados por indígenas como Jundiá, (não é Jundiaí). Restaurar a pauta da preservação ambiental é urgente!

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista