A forma como organizamos o espaço em que vivemos diz muito sobre o estado da nossa mente. Um ambiente caótico, cheio de estímulos visuais e objetos fora do lugar, pode refletir o turbilhão interno, mas também pode ser um gatilho silencioso para o estresse, a ansiedade e a depressão.
Cada vez mais estudos mostram que o ambiente físico tem impacto direto sobre o equilíbrio emocional e o funcionamento cerebral, isso não é incrível? Pesquisadores da Universidade da Califórnia acompanharam mulheres que descreviam suas casas como desorganizadas ou cheias de objetos e constataram que elas apresentavam níveis de cortisol significativamente mais altos ao longo do dia.
O cortisol é o principal hormônio do estresse e, quando permanece elevado por tempo prolongado, interfere no humor, no sistema imunológico e na qualidade do sono. Em outras palavras, o cérebro interpreta a bagunça como uma tarefa inacabada e permanece em estado de alerta, mesmo quando o corpo tenta descansar.
O cérebro humano busca previsibilidade e padrões. Em um ambiente organizado, ele economiza energia, melhora a concentração e se sente seguro para relaxar. Já a desordem visual ativa o sistema límbico, responsável pelas respostas emocionais, e estimula o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, aumentando a liberação de cortisol e adrenalina. Essa reação constante, quando repetida diariamente, pode contribuir para o desenvolvimento de sintomas depressivos e de ansiedade.
Dentre todos os cômodos da casa, o quarto merece atenção especial. É nele que o corpo realiza os processos de reparo celular, consolidação da memória e regulação hormonal durante o sono. Quando esse ambiente está abarrotado de objetos acumulados, a mensagem inconsciente enviada ao cérebro é a de que ainda há tarefas pendentes, o que dificulta o relaxamento e pode agravar quadros de insônia. A chamada higiene do sono, um conjunto de práticas que favorecem o descanso, inclui não apenas o desligamento de telas e o controle da luminosidade, mas também a manutenção de um ambiente limpo, silencioso e visualmente calmo.
Dormir bem é um dos pilares fundamentais da saúde física, mental e energética. Durante o sono profundo, o corpo regula a produção de hormônios como a melatonina e a serotonina, reduz o cortisol e realiza uma verdadeira faxina neural, eliminando toxinas acumuladas no cérebro. A falta desse descanso reparador aumenta o risco de depressão, declínio cognitivo, ganho de peso e doenças cardiovasculares, fora fadiga crônica e perda de vitalidade, prejudicando a estabilidade emocional.
Mas o impacto da desorganização não se limita à mente. O excesso de estímulos visuais eleva a frequência cardíaca, altera o ritmo circadiano e compromete a ativação do sistema nervoso parassimpático, responsável pelas respostas de calma e regeneração. Em contrapartida, um ambiente limpo, arejado e com poucos estímulos favorece o equilíbrio entre o sistema simpático e o parassimpático, melhora a oxigenação cerebral e aumenta a sensação de bem-estar.
A psicologia ambiental chama essa relação de “home mind link", ou “conexão casa-mente”. A forma como o espaço físico é organizado afeta diretamente os estados emocionais e comportamentais. Assim como a alimentação e o exercício físico, o ambiente doméstico também é um determinante de saúde. Cuidar da casa é, portanto, um ato de autocuidado, e não apenas uma questão estética. A ordem exterior ajuda a criar ordem interior, e isso é uma grande verdade.
Em tempos de excesso de informação e estímulos constantes, buscar simplicidade e harmonia no espaço em que vivemos é uma forma concreta de promover saúde mental. Arrumar o quarto, abrir janelas, eliminar excessos e criar áreas de respiro visual são atitudes que reduzem o estresse, melhoram o sono e trazem clareza mental. Cuidar do ambiente é cuidar da mente. E talvez, no silêncio de um quarto organizado, o corpo finalmente encontre a paz que o mundo lá fora tanto insiste em roubar. Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil