13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Eternidade


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No último domingo, na Solenidade de Finados, o Padre Márcio Felipe, Reitor e Pároco do Santuário Santa Rita de Cássia, em sua homilia comentou que a morte é nosso limite. E como é. Nessa hora, me vieram as ausências fortes daqueles que amei e permanecem em meu coração ao longo de meus dias. Já experimentaram essa fronteira, ao chegarem à finitude humana. Sei disso, mas nunca havia me impactado com essa colocação. Com o passar do tempo, vamos nos deparando com a realidade mais próxima.

Ao observar o passado, noto quantas pessoas que se tornaram de ausência sentida. Na época, eu as via como minhas contemporâneas para todo sempre e, por isso, as dores da solidão não transpiravam.

Ausência terna não é vazio. As lembranças bonitas a preenchem. As desagradáveis coloco sob o olhar de Deus.

No sábado passado, nosso Bispo Emérito, Dom Vicente Costa, na Solenidade de todos os Santos e Santas no Carmelo São José, disse que o Senhor quer nos moldar à santidade. Penso que o moldar-se à santidade assopra as fuligens do mundo e nos aproxima do Eterno. É quando o limite existe, mas não se transforma em angústia ou desespero. Transforma-se em esperança. Acrescentou as bem-aventuranças proclamadas por Jesus como maneira de se aproximar da santidade: sermos pobres em espírito, mansos, misericordiosos, de coração puro...

Não somos capazes de acrescentar um minuto a mais aos nossos limites. A santidade, porém, ultrapassa a nossa finitude, apesar de conter recordações. Fernando Pessoa escreveu: “Estou só e sonho saudade. / E como é branca de graça/ a paisagem que não sei, / Vista de trás da vidraça/ Do lar que nunca terei”. E a “Serenata”, de Cecília Meireles, muito acrescenta: “… Permita que eu feche os meus olhos, /pois é muito longe e tão tarde! /Pensei que era apenas demora, /e cantando pus-me a esperar-te. /Permite que agora emudeça:/que me conforme em ser sozinha. / Há uma doce luz no silêncio, /e a dor é de origem divina. /Permite que eu volte o meu rosto/ para um céu maior que este mundo, /e aprenda a ser dócil no sonho/ como as estrelas no seu rumo …”

O Evangelho da Liturgia do domingo era sobre o acontecimento do encontro da viúva de Naim com Jesus (Lucas 7, 11-17). Padre Márcio Felipe prosseguiu com sua homilia. Disse ele sobre a vida nova que nos foi dada por Jesus.

A caminho de Jerusalém, Jesus se deparou com inúmeros dramas, dentre eles com o enterro do filho da viúva de Naim. Em todos sentiu compaixão, assim como sente hoje com as dores da humanidade.
Neste Evangelho, não tinham nomes e não possuir nomes é não ter dignidade. O Senhor parou o cortejo fúnebre, tocou o caixão e disse: "Jovem, eu te ordeno, levanta-te". Não perguntou quem era, sua história... Devolveu-lhe a vida.

Grande esperança sobre nossa finitude nós dá o Profeta Isaías (43, 1.4 e 49.16): “E agora, eis o que diz o Senhor(...) nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. (...) Porque és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo, permuto reinos por ti, entrego nações em troca de ti”. (..) Eis que estás gravado na palma de minha mão...”

Diante da saudade, da solidão, das ausências em minha vida, da finitude, respondo como Pedro a Jesus (6, 68): “Senhor, a quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista