07 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O Brasil na geopolítica das terras raras


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Na semana passada, abordamos a disputa global por terras raras. Neste texto, falaremos da posição do Brasil no mundo e de como o país se movimenta no atual xadrez geopolítico e econômico diante desta nova “corrida do ouro”.

As terras raras — um grupo de 17 elementos químicos como neodímio, lantânio e térbio — são essenciais para tecnologias de ponta: ímãs permanentes, turbinas eólicas, motores elétricos, baterias, equipamentos médicos e sistemas de defesa.

O Brasil possui cerca de 23% das reservas conhecidas, a segunda maior do mundo, atrás apenas da China. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o país tem aproximadamente 21 milhões de toneladas desses minerais estratégicos, distribuídas em diversas regiões. Os principais depósitos estão localizados em Minas Gerais, Bahia, Goiás, Amazonas e Pará.

Goiás é destaque nacional por ter uma mina ativa de elementos terras raras na cidade de Minaçu, no norte do estado. Já Araxá (MG), no triângulo mineiro, possui a única reserva oficialmente reconhecida no Brasil. Lá, os minerais com terras raras nas rochas alcalinas são a apatita e a calcita.

Apesar da abundância, o Brasil ainda produz menos de 1% do total global desses minérios. Boa parte do material extraído é exportada em estado bruto, sem processamento ou agregação de valor. Isso limita a inserção do país nas cadeias globais de suprimento de alta tecnologia, dominadas pela China, que responde por cerca de 70% da produção mundial.

A lacuna entre reservas e produção se explica por uma série de fatores, como: a falta de uma cadeia produtiva integrada, que inclua desde a mineração até a separação, purificação e fabricação de componentes industriais; a ausência de políticas públicas robustas para incentivar investimentos em pesquisa, infraestrutura e inovação; desafio ambiental, uma vez que o processamento de terras raras gera resíduos tóxicos e exige regulamentação específica.

Com o aumento das tensões entre Estados Unidos e China, os norte-americanos não querem ficar dependentes dos chineses e estão à procura de novos parceiros para fornecer esses minerais estratégicos. Na semana passada, por exemplo, o presidente Donald Trump esteve no Japão, onde foram firmados acordos para garantir o fornecimento de terras raras.

Neste contexto, o Brasil passou a ser visto como peça-chave na diversificação das cadeias de suprimento globais. Porém, precisa se organizar rapidamente para construir uma cadeia produtiva completa, do contrário será mero exportador de matéria-prima.

Há alguns sinais de avanço no horizonte. O Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) prevê investimentos de mais de US$ 2 bilhões até 2029 em projetos de exploração e beneficiamento de terras raras no país. Vale destacar que tem havido uma verdadeira romaria ao IBRAM de representantes de países como Estados Unidos, Austrália e China para tratar dos minerais críticos brasileiros.

Paralelamente, o poder público avança na Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos (PNMCE). Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que cria o Comitê de Minerais Críticos e Estratégicos (CMCE) e estabelece diretrizes para promover o desenvolvimento sustentável e estratégico da mineração no Brasil. Prevê também incentivos fiscais, crédito e marcos regulatórios específicos para impulsionar o setor.

O momento exige visão estratégica, investimento e parcerias internacionais. O futuro das terras raras no país depende, em boa medida, da capacidade brasileira de transformar riqueza geológica em soberania tecnológica e industrial.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP