06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O futuro da sua saúde começa antes 


| Tempo de leitura: 4 min

O corpo humano pode ser comparado a uma poupança biológica: cada escolha que fazemos ao longo da vida é um depósito ou um saque, e os resultados aparecem inevitavelmente com o passar dos anos, sempre acompanhados de juros. A ciência moderna mostra que o envelhecimento saudável não depende apenas da genética, mas principalmente dos hábitos acumulados desde cedo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, envelhecer bem significa manter a capacidade funcional e o bem-estar, e isso é construído ao longo de todo o curso da vida, não apenas quando já sentimos o peso da idade.

Quando afirmamos que a diabetes que aparece por volta dos 50 começa aos 10 anos, não é exagero. Pesquisas demonstram que o excesso de açúcar e ultraprocessados na infância e adolescência aumenta marcadores de risco metabólico e cardiovascular que irão se manifestar décadas depois. Crianças que consomem regularmente refrigerantes e alimentos industrializados têm maior chance de desenvolver obesidade, hipertensão e resistência à insulina já na juventude, fatores que pavimentam o caminho para o diabetes tipo 2. A boa notícia é que o contrário também é verdadeiro: ensinar o paladar infantil a valorizar os alimentos de verdade, estimular refeições caseiras e incentivar o movimento no dia a dia é uma das formas mais eficazes de prevenção de longo prazo.

O mesmo raciocínio vale para a demência dos 60, que começa a ser moldada aos 40 anos. Hoje sabemos que as alterações cerebrais que levam à perda de memória podem se iniciar décadas antes dos primeiros sintomas. Um relatório publicado pela Lancet Commission aponta que até 45% dos casos de demência poderiam ser prevenidos ou adiados com mudanças de estilo de vida. Isso inclui manter pressão arterial e colesterol sob controle, adotar uma rotina regular de exercícios, proteger a audição e a visão, cultivar interações sociais e cognitivas, reduzir o consumo de álcool e eliminar o tabagismo. O cérebro envelhece melhor quando cuidamos do corpo como um todo. Exercitar-se, dormir bem, aprender coisas novas e manter conexões sociais não são apenas prazeres da vida: são estratégias neuroprotetoras.

No caso da doença pulmonar dos 70, muitas vezes ela começa aos 19, ou até antes. O início precoce do tabagismo, sobretudo antes dos 15 anos, causa danos severos e duradouros ao pulmão, elevando de maneira expressiva o risco de desenvolver Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. Essa condição compromete a respiração, reduz a qualidade de vida e está entre as principais causas de morte evitável no mundo. Apesar disso, nunca é tarde para abandonar o cigarro: estudos mostram que parar de fumar mesmo na meia-idade reduz significativamente o risco de declínio cognitivo e respiratório, trazendo ganhos palpáveis em poucos anos. O corpo tem uma capacidade impressionante de recuperação, e cada decisão de cessar hábitos nocivos representa um investimento imediato em qualidade de vida. Vale a pena!

Outro exemplo está na saúde óssea dos 70, que começa aos 16 anos. O pico de massa óssea, que serve de reserva para a vida toda, é construído principalmente na adolescência e no início da vida adulta. Exercícios de impacto, prática esportiva e treinamento de força nessa fase são capazes de aumentar de forma expressiva a densidade óssea, reduzindo o risco de osteoporose e fraturas décadas depois. Após esse período, o que fazemos é preservar e desacelerar as perdas naturais da idade. Ainda assim, hábitos saudáveis em qualquer etapa são determinantes: treinar força regularmente, investir em equilíbrio e mobilidade, manter vitamina D adequada, ter uma nutrição equilibrada e evitar o tabagismo são medidas que fazem diferença na prevenção de fraturas.

Esses exemplos deixam clara uma mensagem essencial que insisto em escrever para vocês: o envelhecimento não é um botão que se liga aos 60 anos, mas um processo contínuo que começa desde a infância. A diabetes dos 50, a demência dos 60, a doença pulmonar dos 70 e as fraturas dos 80 são muitas vezes consequências de escolhas feitas anos antes. Ao mesmo tempo, nunca é tarde para mudar o rumo! Pequenas alterações diárias, como trocar o refrigerante por água, caminhar regularmente, subir escadas, praticar musculação, dormir melhor, cultivar amizades e evitar o cigarro e o excesso de álcool, representam depósitos valiosos na conta da sua saúde futura.

O envelhecimento saudável é construído em camadas. Na infância e adolescência investimos em alimentação equilibrada, movimento e esportes. Na meia-idade cuidamos da pressão, do colesterol, da audição e da visão. Gerenciamos o estresse e reforçamos a força muscular. Na maturidade, mantemos a capacidade funcional, prevenimos quedas, estimulamos o cérebro e nutrimos vínculos sociais. Cada etapa importa e todas se somam para definir como será a qualidade de vida nas décadas seguintes.

A grande verdade é que o futuro que desejamos depende das escolhas que fazemos agora. O envelhecimento que você quer ter amanhã começa hoje, no prato que você monta, nos passos que dá, no sono que prioriza, nos vínculos que cultiva e no cigarro que decide não acender. Cada hábito saudável é um investimento que se multiplica com o tempo, garantindo não apenas anos de vida, mas principalmente muita vida nos anos. Muita saúde a todos!

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)