14 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Aos mestres, com carinho


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Ninguém dá nada por eles. Os tempos modernos parecem não reservar o lugar da primeira fila; que sempre merecem.

Hoje quando uma autoridade pública é questionada quanto à educação, ainda assim o valor de uma professora é deixado de lado. A velha frase de um velho político cínico conhecido parece tornar-se proverbial: professora não é mal remunerada, mas sim, mal casada.

Enquanto no Japão os professores são tratados com grande respeito, a profissão é prestigiada e valorizada pelo governo, o professor é a única pessoa diante de quem o Imperador faz reverência, mostrando a autoestima pela profissão. Diferente de muitos países desenvolvidos, em que a educação, essencial base de formação de uma nação, nossas autoridades ainda não lhe oferecem a merecida importância.

Sua missão: não só instruir, mas educar. A jornada diária. Primeiro o caminhar a pé, depois a espera do ônibus, mil riscos a correr. A escolha das aulas. Os horários e escolas alternativas. Desde jovem já sentiu este desassossego. Viu, todavia, claro o caminho. Mais que promessa, era a certeza de seu destino. Tudo nela é natural. Sabe ouvir e sabe falar. Às vezes tropeça na ingratidão, muitas vezes cai no esquecimento, mas sempre se levanta como a criança que aprende a andar. O impulso da vida a leva a seguir em frente.

O café corrido. O preço da inflação já mexe com seu bolso e com o seu pobre desjejum. A chuva. O ônibus atrasado. O horário a cumprir. A matéria a ser lecionada. Encontra energia num segredo só seu e bem guardado. Vai com ela, aonde ela vai. Reúne as forças necessárias, na vontade e alegria de ensinar.
 
A modernização da tecnologia didática, bem como a adequação dos currículos à vida prática dos alunos. Mais uma vez é chamada a intervir. Na classe, de relance, vê a luta diária a enfrentar. A invasão de portadores de celulares.

Está tão difícil cuidar dos nossos filhos, imaginem cuidar dos filhos dos outros. Tantos jovens irrequietos e “excitados”, nos dias de hoje. Uns taludos, outros franzinos, maioria menos afortunada, entretanto, a todos quer bem. Seja tatuado, usando boné ou coçando a genitália. Vê ali, com olhos comovidos, o Brasil de amanhã. Aí, acredita no que diz. Nem precisa a diretora repetir e nem a coordenadora recomendar. As palavras exatas. Basta uma palavra e se acende. Não come e nem mastiga uma única sílaba. Traz nos olhos, no jeito, uma flama que crepita.

A sala de aula. O ar abafado. Nas instituições públicas, o ar condicionado é privilégio de poucos, e só em gabinetes fechados. Não desiste. Se o aluno não estuda é culpa da professora. Num ímpeto de sinceridade, se empenha. Prefere pecar pela ação, jamais pela omissão. À noite há os afazeres do lar. O cuidado com os filhos. Exausta, liga a televisão.

O noticiário. Impossível não ver ou não ouvir. Toda aquela desesperança. Assaltos, quadrilhas, drogas, balas perdidas, mortes no trânsito, corrupção, propina, desonestidade, políticos corruptos, milhões de dólares em contas fora do país, ganância desmedida. O Brasil das notas baixas. A escola pública desacreditada. Nossa terra não merece isto. Desliga a televisão. Recolhe-se ao quarto. Deita um olhar tristonho no amanhã. Apaga a luz. Começa a chorar.


Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)