13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O bom senso retoma sua força


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Parece que se expor 24 horas do dia, sete dias por semana, nas mídias sociais está saindo de moda. A curadoria humana ganha força no movimento denominado “Blockout”, que começou nos EUA, em oposição ao nivelamento cultural imposto pelos algoritmos e a perda de identidade diluída em filtros que achatam e estandardizam gostos, ambientes e comportamentos.

Há pouco tempo a palavra curadoria era mais utilizada para arte, conhecimento, conteúdo ou na área corporativa. Enfim, um curador tem a responsabilidade de organizar, fazer a gestão, escolher e cuidar de coleções de arte; informações estratégicas; interpretação de dados; construção de repertório alinhado à cultura organizacional. O excesso de informações trouxe para um papel estratégico a curadoria humana que pesquisa se as fontes são confiáveis – já peguei o ChatGPT na mentira –, selecionar o que é mais relevante para determinado público-alvo, contextualizar a partir de reflexão.

Voltamos à essência humana – pensar, analisar, interpretar com objetividade e assertividade antes de tomar qualquer decisão.

Oito a dez segundos. Esse é o tempo estimado para você capturar seu seguidor, segundo pesquisas da Microsoft (2015). Já para os anúncios digitais online, o tempo para chamar a atenção do usuário cai para dois segundos, afiança a descoberta de neurocientistas da Mars,Inc. Conteúdos rasos, que nem sempre primam pela veracidade, são a primeira consequência direta do flash antes do dedo se movimentar e passar para o post seguinte na telinha do celular. Kyle Chayka, jornalista e autor do livro ‘Mundo filtrado: como os algoritmos nivelaram a cultura’, diz que “vivemos em um ambiente global de Filterworld”, o mundo sob filtro, ou seja, “um ecossistema onde os algoritmos decidem o que vemos, pensamos e valorizamos”. Para ele, “estamos consumindo uma cultura pré-filtrada, pré-formatada, e emocionalmente anestesiada.”

Com o algoritmo no comando, os conteúdos passaram a seguir uma receita de bolo, onde tudo se torna polido, neutro, superficial e homogeneizado, tanto do ponto de vista estético como cognitivo e social – uma cultura “achatada” (flattened), esclarece Chayka acrescentando que “o nivelamento traz um universo onde tudo é agradável o suficiente e nada é profundamente singular.”

Foram aproximadamente duas décadas da febre dos compartilhamentos até chegarmos à saturação, caminhando para "postagens zero", segundo Chayka, em artigo publicado para a revista The New Yorker, recentemente. Ele afirma que “pessoas comuns percebem que não vale a pena compartilhar suas vidas online. As redes sociais costumavam parecer uma cópia imperfeita da minha vida social. Mas, agora, elas parecem ser um ‘conteúdo’ como outro qualquer”.

O movimento Blockout surge justamente no momento em que se pede reflexão e profundidade, pois as postagens estandardizadas e pasteurizadas estão deixando de ser atrativas para o público em geral. O livro de Chayka confirma que o Blockout pode ser entendido como um movimento de re-humanização cultural, com objetivos definidos para reinstalar o senso crítico nas escolhas digitais, bem como, reverter a passividade algorítmica, substituindo o ‘ver o que me mostram’ pelo ‘escolher o que quero ver’. Redefinindo, inclusive, o papel e o conceito dos ‘influencers’, premiando o conteúdo relevante e não aquele puramente performático.

E você? Está desperto contra a mesmice programada?

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora