13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Em busca da soberania digital


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Num mundo cada vez mais digital, os datacenters se tornaram a espinha dorsal da economia global. São eles que sustentam os serviços em nuvem, a inteligência artificial, o streaming, as redes sociais e toda a infraestrutura que permite o funcionamento das empresas, governos e da vida cotidiana conectada. A soberania digital tornou-se questão estratégica.

O Ministério da Fazenda aponta elevada dependência brasileira em relação a serviços digitais prestados no exterior, uma vez que apenas 40% dos dados dos brasileiros são processados em território nacional. Hoje, dos cerca de 10 mil datacenters existentes no planeta, apenas 200 estão no Brasil, segundo dados do Data Center Map. Quase 40% dos datacenters do mundo estão concentrados nos Estados Unidos.

Na computação em nuvem o percentual é ainda mais alto: 70,6% do mercado estão nas mãos das empresas americanas, conforme a consultoria Gartner. Até mesmo o governo brasileiro utiliza os serviços em nuvem das big techs para processar e armazenar seus dados, o que constitui um risco geopolítico.

Por isso, o Brasil almeja ser um polo de datacenters. Essa ambição não é apenas tecnológica, mas também econômica, ambiental e geopolítica. Além de garantir soberania digital, ser um polo de datacenters significa atrair investimentos bilionários, gerar empregos qualificados e impulsionar a inovação local.

O país reúne vantagens competitivas importantes, como possuir uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Trata-se de um atrativo poderoso, já que datacenters consomem grandes quantidades de energia e o mundo ruma para a descarbonização. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, datacenters são considerados “infraestruturas críticas de soberania” e devem ser tratados como parte da política energética e tecnológica nacional.

Essa conjuntura levou o governo federal a instituir, no mês passado, a Política Nacional de Datacenters (PNDC), vinculado à Nova Indústria Brasil (NIB),com o Regime Especial de Tributação para Datacenters (Redata), que busca atrair novos investimentos e reduzir a dependência de estruturas estrangeiras.

Criado por Medida Provisória, o programa concede isenção de tributos federais para aquisição de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação. Produtos sem similar nacional também têm isenção de imposto de importação. Em troca, as empresas beneficiadas deverão investir ao menos 2% do valor dos equipamentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, reservar 10% da capacidade de processamento para o mercado nacional, utilizar energia 100% renovável e ter eficiência hídrica.

O Orçamento de 2026 reserva R$ 5,2 bilhões para o Redata e estima-se que a MP possa gerar investimentos de R$ 60,8 bilhões para o próximo ano, segundo a Brasscom, associação que reúne empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação. Já Associação Brasileira de Data Centers (ABDC) tem a expectativa de atrair até R$ 2 trilhões em investimentos privados na cadeia de serviços digitais ao longo da próxima década.

O novo marco regulatório é um passo importante para transformar o Brasil em referência regional em infraestrutura digital. A presença de datacenters locais fortalece a soberania dos dados, reduz a dependência de provedores estrangeiros, amplia a competitividade da economia e estimula a inovação tecnológica. Não custa lembrar: em tempos de economia digital e Inteligência Artificial, não há futuro sem dados.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP