13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

A sedução do palco digital favorece a ilusão


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Uma performance cuidadosamente encenada. Sim, a arte de seduzir nunca esteve tão presente como nas mídias sociais. É fumaça que num piscar de olhos se foi. É a ilusão do compartilhamento, a idealização ... exatamente como você quer que seja. Os algoritmos colaboram com isso. O nosso chip cerebral programa a imaginação para ver virtudes, às vezes não há nenhuma beleza, talvez só haja vazio. Existe unicamente uma imagem exacerbada e fake.

Palcos são montados a exemplo de uma produção cinematográfica com front stage e back stage, onde estão expostas versões selecionadas de si mesmos para audiências específicas. Nas redes, no front stage são usados filtros, legendas e cortes temporais constroem um eu que atende às expectativas do público e aos desejos do autor da imagem. A encenação torna a ilusão plausível, porque seguimos as pistas cenográficas que nos dizem como interpretar o espetáculo.

A tecnologia potencializa esse jogo. Estudos da socióloga Sherry Turkle do Institut of Technology (MIT) e doutora, por Harvard, em Psicologia da Personalidade, mostrou como dispositivos e interfaces permitem que nos relacionemos com versões mediadas de pessoas e emoções, nos sentimos acompanhados por imagens e textos que simulam intimidade, mas frequentemente empobrecem a profundidade do vínculo real. A comunicação digital favorece respostas rápidas, fragmentadas e facilmente comparáveis, condições perfeitas para que a idealização floresça e o vazio seja preenchido por narrativa, não por experiência.

As consequências do comportamento sedutor nas mídias sociais também foram pesquisadas. Uma das observações, entre outras, foi denominado de ‘colapso do contexto’, “superposição de diferentes audiências num mesmo palco digital. Quando múltiplos públicos observam a mesma postagem, a pessoa que seduz passa a gerir simultaneamente impressões distintas, o que aumenta a curadoria e a teatralidade do self. A sedução virtual, nesse contexto, é menos sobre o outro e mais sobre como ser visto pelos muitos. Essa necessidade de performar para plateias heterogêneas alimenta a idealização e a amplificação das falhas reais”, diz o estudo.

Outros pesquisadores afirmam que o comportamento online também é afetado por fatores psicológicos específicos. John Suler, escritor e professor de psicologia da Rider University  explica o ‘online disinhibition effect’ porque pessoas divulgam mais, exageram emoções ou encenam identidades sem as barreiras que a presença física impõe. O anonimato parcial, a distância temporal e a invisibilidade multiplicam ousadia e folclore pessoal. Sedução virtual pode, assim, nascer de um híbrido entre necessidade emocional e oportunidade tecnológica de se reinventar, justifica John.

Os algoritmos e plataformas favorecem a ampliação desses comportamentos ao polarizar e amplificar conteúdos visuais e tornarem algumas narrativas irresistíveis, não porque sejam verdadeiras, mas porque engajam. Zeynep Tufekci, socióloga turco-americana e professora na Universidade de Princeton tem mostrado que “essa economia de atenção modela visibilidade e consequentemente o que consideramos atraente ou digno de imitação. A sedução passa a ser também produto de design, ou seja, o que atrai é aquilo que a plataforma decide destacar.”

E você? Já parou para se observar o quanto é seduzido pelas mídias sociais?

Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)