13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Invisibilidade


| Tempo de leitura: 3 min

Aplaudo, como sempre, os artigos da jornalista Ariadne Gattolini, editora-chefe do Grupo JJ. Destaco, em especial, o texto publicado no domingo, dia 28, sobre a bebê vítima de agressão, que infelizmente não resistiu.

Uma tristeza que ainda ecoa. Ouvi comentários diversos, dentre eles de ira contra a mãe. Algumas das mulheres da Pastoral/ Magdala também manifestaram seu repúdio, na quarta-feira, dia 24, quando nos reunimos tendo sempre como tema uma das passagens do Evangelho. Uma delas interrompeu as falas e disse que precisávamos tomar cuidado. Segundo ela – concordo – a cólera nos faz acolher, dentro de nós, aqueles que condenamos. Reflexão profunda. Quem busca os caminhos de Deus precisa cuidar até de seus sentimentos mais legítimos.

O Evangelho daquela noite foi o de São Lucas (8, 4-15): a Parábola da Semente. Nele, Jesus fala dos obstáculos interiores – os “venenos” que impedem a Palavra de Deus de florescer em nós.

Voltemos à criança, à sua dor silenciosa, ao seu fim precoce. Como bem escreveu a jornalista Ariadne, mais do que “atender era entender o processo de subnutrição desta bebezinha (ela tinha somente 7,5 kg), a vulnerabilidade social envolvida e a intervenção imediata nesta família”.

Mas havia também o peso da invisibilidade – tão comum em nossa sociedade, que decorre do não se importar, do ignorar.

A mãe, mesmo com sinais evidentes de negligência, foi vista uma primeira vez na UPA, e com o tempo se tornou invisível. E o pai? O pai invisível. Como tantos neste mundo. Nessa invisibilidade, nada foi detectado e a menina apanhava. Por que será que o pai, igualmente responsável, não está em um estabelecimento carcerário como a mãe?

Numa perspectiva cristã, veio-me a passagem bíblica do rico e do pobre Lázaro (Lucas 16, 19-31), que desejava matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico e, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. Foi o Evangelho da Liturgia da Igreja no domingo que passou. Em sua homilia, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor do Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, refletiu sobre o não enxergar o outro. Quem busca o Céu, não se acomoda – se inquieta com o sofrimento do próximo. A indiferença nos afasta de Deus. Olhamos os pobres como se o problema não nos dissesse respeito.

E assim, ouvimos a história da bebê, da mãe que desconhecemos, do pai ausente – nos indignamos... e ficamos nisso.

De acordo com a “Rede Catedral da Comunicação Católica”, de Belo Horizonte, no Instagram, a parábola fala de um coração que deixou de sentir, de olhos que se acostumaram com a dor dos outros. O homem rico foi condenado não por possuir bens, mas por ter vivido como se não houvesse mais ninguém além dele e de seus banquetes.

A omissão também é uma forma de cegueira – sobretudo para quem tem como missão denunciar a violência e cuidar dos violentados.

Na acomodação cavamos abismos cada vez mais profundos entre nós e os que mais sofrem.

Rezo, junto ao Padre José Fernandes, na “Cantiga para Francisco”:

“...Hoje em dia, nos jovens que eu vejo
Irrequietos, num mundo infeliz
Eu renovo a esperança e o desejo
De topar com Francisco de Assis (...)
Mil ideias de renovação
Eles são consciência do povo
Queira Deus que eles cresçam irmãos.”

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista