O cataclismo climático não é assunto restrito ao governo. É algo que precisa comover toda a sociedade. Não é fácil acordar da inércia uma geração que assistiu, insensível, à destruição da floresta e à poluição da atmosfera, do solo e da água. Por isso, a esperança é a juventude. Além de ser mais emotiva, é aquela que vai sofrer as consequências de nossa incúria e de nossa crueldade.
O bom é que há muitos jovens atentos à realidade. Em São Paulo, por exemplo, o grupo “Formigas de Embaúba” faz plantio de árvores em escolas e outros equipamentos urbanos, muito antes de Paris criar o seu projeto “Oásis”, que faz a mesma coisa. O único diferencial é o de que a prefeita Anie Hidalgo tira concreto e cimento das escolas e substitui por pequenas florestas. Aqui, utiliza-se do espaço ocioso ainda não coberto de impermeabilização.
Os “Meninos da Billings” são jovens que se encarregam da limpeza às margens de um dos grandes reservatórios da maior cidade brasileira e que fazem exatamente o contrário da maior parte da população, que joga suas imundícies e descarta todo tipo de resíduo sólido nas águas necessárias para a sobrevivência de milhões.
Na Amazônia, que receberá em novembro a COP30, o projeto “Juventude pelo Clima”, iniciativa do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia incentiva o protagonismo de universitários de territórios indígenas, quilombolas e extrativistas na preservação do bioma.
O trabalho é ouvir a comunidade, para que todos tenham voz e que a juventude ensine as pessoas mais atuantes a se tornarem líderes que apliquem, na prática, os conhecimentos que os jovens adquiriram na Universidade.
Há uma profunda conexão entre os mais idosos e a herança cultural é o ponto central de elaboração das propostas. Ensina-se, por exemplo, o cultivo de plantas medicinais, ainda desconhecidas pela maioria dos brasileiros, mas um tesouro imenso que ainda não foi descoberto pela indústria farmacêutica.
Mas qualquer cidade pode contar com iniciativas assim. As escolas padecem de falta de interesse porque não conseguem mais empolgar os educandos para aquilo que transmitem. O mundo requisita criatividade, empreendedorismo, inovação. Pensar diferente, para resolver aquilo que as gerações antigas e atuais não conseguiram atender.
Não há cidade no país que não necessite de mais árvores. A árvore é a maior amiga da vida. Ela reequilibra o regime de chuvas, o que é essencial, numa fase de escassez hídrica no horizonte. Ela permite que a água se infiltre em torno dela e reabasteça os lençóis freáticos. Ela presta serviços ecossistêmicos gratuitos. A ecotranspiração libera oxigênio enquanto sequestra gás carbônico. Além disso, embeleza a paisagem, confere sombra e reduz a temperatura. Serve de abrigo para a fauna silvestre.
As escolas poderiam fazer de suas aulas de ecologia o aprendizado na coleta de sementes, na semeadura, no acompanhamento da germinação até o crescimento e consolidação das espécies. No seu plantio e nos cuidados que a árvore necessita até poder sobreviver.
Tantas outras tarefas podem ser realizadas por um aprendizado cidadão, o que ensinaria às novas gerações formas de participação ainda adormecidas, mas que são imprescindíveis a que se instaure, neste Brasil tão necessitado de boa vontade e determinação, a prometida Democracia Participativa.
Sempre há jovens sonhadores, antenados com o porvir, entusiasmados com o milagre da existência.
Que eles façam iniciativas em benefício de sua cidade. Redimirão a culpa de minha geração, tão alienada e omissa e garantirão um porvir melhor para os seus descendentes.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)