13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Rejeição da PEC: uma vitória da Democracia


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A Democracia tem por fundamento o interesse coletivo, formalizado em um pacto social assentado em uma Constituição, elaborada e aprovada por uma Assembleia Nacional Constituinte. 
Foi assim que, em 1988, o Brasil firmou sua Constituição, a Constituição Cidadã, um conjunto de regras e compromissos éticos que deveriam reger a Nação e proteger a sociedade contra abusos do poder.

Sabendo que nenhuma obra humana é perfeita, a própria Constituição previu mecanismos de atualização. Entre eles, a PEC - Proposta de Emenda Constitucional -, cujo processo de aprovação, rigoroso, exige dois turnos de votação em cada Casa do Congresso Nacional, com o apoio de, no mínimo, três quintos dos parlamentares em cada votação. A intenção é clara — evitar que mudanças oportunistas subvertam os princípios constitucionais.

Com a rejeição da PEC da Blindagem pelo Senado fica clara a importância de tais salvaguardas, evitando medidas que, ao invés de servir ao interesse público, servem a interesses corporativos e particulares.

O que propunha essa PEC?

Segundo textos divulgados pela imprensa e análises de entidades da sociedade civil, a PEC - sugestivamente denominada “da blindagem” - cercaria o parlamentar de proteções que o colocariam fora do alcance da Lei:

Autorização prévia para ação penal: deputados e senadores só poderiam ser processados criminalmente no STF se a respectiva Casa (Senado ou Câmara), por votação secreta e maioria absoluta, autorizasse.

Voto secreto: a autorização, tanto para processos quanto para casos de prisão, seria decidida sem que os eleitores soubessem como votou cada parlamentar.

Foro privilegiado ampliado: presidentes de partidos com representação no Congresso também passariam a ter foro especial no STF - Supremo Tribunal Federal.

Especialistas, juristas, entidades de combate à corrupção e a própria imprensa apontam os riscos graves dessas salvaguardas, entre eles: 

Favorecimento da impunidade — ao subordinar processos criminais à autorização política, a medida poderia travar ou simplesmente impedir responsabilizações.

Falta de transparência — o voto secreto esconde dos eleitores como votou seu representante, eliminando com isso qualquer possibilidade da sua prestação de contas ao seu eleitorado. 
Enfraquecimento das investigações — a blindagem poderia paralisar apurações em curso, como as que envolvem emendas parlamentares, e dificultar novas investigações.

Tramitação acelerada e opaca — críticos também apontam que, no afã de aprovar a medida, o processo legislativo correu de forma acelerada, sem amplo debate público, o que agrava as suspeitas sobre sua real motivação.

A blindagem de candidatos eleitos cairia como uma luva para as facções criminosas, que se empenhariam em designar alguns dos seus membros - que naturalmente seriam eleitos - para concorrer nas eleições, bem como, se eleitos, ficaram livres de investigações.

O risco de retrocesso

A Constituição é o pacto que deve proteger o interesse da cidadania e não para blindar políticos.

Quando deputados e senadores legislam em causa própria, em benefício de seus interesses imediatos, a democracia se fragiliza e a confiança da população no sistema político se corrompe ainda mais.

Ao exigir que o Judiciário dependa da autorização do Legislativo para investigar ou punir parlamentares, a PEC da Blindagem tentou criar um escudo de super poderes, que se distancia do espírito republicano e transforma representantes - deputados e senadores - em uma casta acima da lei.

Se aprovada pelo Senado, essa emenda não apenas abriria um ciclo de impunidade, como também reforçaria a percepção de que o Estado brasileiro trabalha contra — e não a favor — do povo.

Não por outra razão se diz que a Democracia requer eterna vigilância.


Miguel Haddad é ex-prefeito de Jundiaí e ex-deputado federal