13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Inos, um querido


| Tempo de leitura: 3 min

É claro que eu escreveria sobre Inos Corradin. E esta não é a primeira vez que lhe dedico uma crônica. Um texto meu não acrescenta nada à sua grandeza como ser humano e artista. Ainda assim, meu coração insiste em falar sobre quem o tocou profundamente — e continuará presente, ad aeternum. Assim é Inos.

O poeta baiano Wilson Rocha escreveu: “Inos é um pintor-poeta, um cronista do imaginário.”

E sua poesia também se perpetua nos versos silenciosos de Helena (in memoriam), Paula, Sandro, Sérgio, dos netos, da nora, do genro. Na manhã em que soube de sua partida, eu pensava em escrever minha próxima crônica para o JJ sobre o tema “Acordar – Dar cor a”, proposto no último encontro de pais organizado pela psicóloga Ana Cristina Codarin Rodrigues e pela assistente social Pérola Maria Dolce, da Associação Socioeducacional Casa da Fonte — uma iniciativa da Companhia de Saneamento de Jundiaí – CSJ, no Jardim Novo Horizonte.

O tema foi escolhido como resposta à crescente sombra da depressão que paira sobre o mundo. E me ocorreu: Inos foi alguém que deu cor ao mundo. Cor que desperta e celebra o coração — cor de festa, de doçura, de poesia, de nostalgia — uma cor que impulsiona a seguir em frente, rumo ao entardecer, ao mar desconhecido, ou mesmo a ilhas mágicas.

Aproximei-me do Inos, um querido, em 1984, quando, a convite do Dr. André Benassi — então prefeito — assumi a direção do setor de Cultura e Turismo da cidade. Na época, formamos um Conselho de Cultura de altíssimo nível, com pessoas voluntárias, apaixonadas por Jundiaí. A Comissão de Artes Plásticas era composta por Inos Corradin (in memoriam), Fernanda Milani (in memoriam), Renato Bezzan e João Borin. Um grupo extraordinário, cujo trabalho marcou época. Minha gratidão eterna a todos.

Inos tornou-se um amigo muito especial. Fortaleceu-me profundamente em minha jornada. Tive a honra de aproximá-lo também de outro querido e inesquecível: Dom Joaquim Justino Carreira. Conversavam com frequência sobre São Francisco de Assis, de quem ambos eram devotos. Inos presenteou Dom Joaquim com um quadro de São Francisco — e a mim também. O "Cântico das Criaturas" os unia: “Louvado sejas, meu Senhor, Pelos que perdoam por teu amor, E suportam enfermidades e tribulações. Bem-aventurados os que sustentam a paz, Que por ti, Altíssimo, serão coroados.”

Em 2018, na Casa da Fonte, decidimos integrar Inos ao cotidiano dos alunos. Foi uma experiência inesquecível. Trabalhamos o ano todo em torno de sua vida e obra, e o culminar foi uma belíssima apresentação no Teatro Polytheama. Ele estava lá, ao lado do filho Sandro — que herdou o dom artístico do pai.

Inos era esplendor e simplicidade. Compreendia as razões que movem a minha vida. Em 2000, quando foi lançado meu livro Nos Varais do Mundo/Submundo, pelas Edições Loyola, a capa foi um presente dele — uma pintura feita especialmente para a obra. Nela, uma menina pensativa e sonhadora olha para o céu. Usa um laço de fita na cabeça, onde pousa uma avezinha.

A imagem traduz, talvez, como enxergo as mulheres vulneráveis — protagonistas da maioria das minhas crônicas — mulheres que carregam em si uma pureza que lhes foi negada desde a infância. Inos via isso. Compreendia.

Inos, um querido, é hoje uma contradição: foi, mas ficou.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista