06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Quanto mais silencioso, mais capaz de ouvir


| Tempo de leitura: 3 min

Silêncio. Uma palavra simples, mas quase rara no nosso cotidiano. Entre o barulho das ruas, as notificações incessantes do celular e até o diálogo interno que não se cala, vivemos cercados de estímulos que nos afastam daquilo que mais importa: nossa própria consciência. A frase “quanto mais silencioso você se torna, mais você é capaz de ouvir” não é apenas um convite à reflexão, mas uma lição prática de saúde, equilíbrio e bem-estar, que tanto gosto de instigar por aqui.

O silêncio não significa ausência, mas presença. É nesse espaço de quietude que conseguimos perceber a respiração fluindo, a tensão acumulada nos ombros ou até os pensamentos automáticos que nos controlam sem que notemos. Estudos da neurociência mostram que, ao silenciar a mente, diminuímos a atividade da amígdala, uma região ligada ao medo e ao estresse. Porém, ativamos áreas do córtex pré-frontal, responsáveis pelo raciocínio e pelas escolhas conscientes. É como se o silêncio fosse um treino para reorganizar o nosso cérebro.

Pesquisas com práticas de meditação e mindfulness comprovam que dedicar alguns minutos por dia ao silêncio pode reduzir os níveis de cortisol, hormônio do estresse, além de melhorar a variabilidade da frequência cardíaca, um importante marcador de saúde cardiovascular e equilíbrio autonômico.

Mais do que acalmar, silenciar nos torna mais resilientes. O tônus vagal, por exemplo, aumenta com a meditação, e esse efeito está diretamente relacionado à capacidade de regular nossas emoções, prevenir inflamações e cultivar a clareza mental.

Mas o silêncio não é apenas terapêutico, é também energético. Quando deixamos de gastar energia reagindo a estímulos externos, abrimos espaço para recuperar vitalidade. É por isso que muitas pessoas relatam, após a meditação, uma sensação de leveza e foco ampliado. O silêncio nos ajuda a distinguir o essencial do supérfluo, a escolher com mais consciência onde investir tempo e atenção.

Nesse sentido, ele se torna um guia prático para decisões melhores, seja na saúde, nos relacionamentos ou mesmo no trabalho.

O que torna essa prática acessível é justamente sua simplicidade, já que o silêncio pode estar em pequenas escolhas diárias: desligar o celular por alguns minutos, caminhar sem fones de ouvido, correr apenas sentindo o corpo, nadar prestando atenção ao fluxo da respiração. Até mesmo o ato de saborear uma refeição sem distrações é uma forma de mindfulness que nos conecta com o momento presente.

Curiosamente, o silêncio não nos afasta do mundo, mas nos aproxima dele. Quando acalmamos a mente, passamos a ouvir melhor os outros, a compreender gestos sutis, a enxergar belezas que antes nos escapavam. Ao cultivar o silêncio, abrimos espaço para a empatia e para uma escuta mais atenta, que melhora nossas relações e fortalece a convivência. O silêncio nos permite ouvir não apenas o que está fora, mas também o que ecoa dentro de nós, como desejos, emoções, intuições que muitas vezes ignoramos.

Neurocientistas têm mostrado que a meditação regular altera até mesmo a estrutura do cérebro, aumentando a espessura cortical em áreas relacionadas à atenção e à memória e reduzindo sintomas de ansiedade, depressão e até dor crônica. Inúmeros estudos reforçam que o silêncio, longe de ser vazio, é altamente produtivo para a saúde integral.

O convite, portanto, é simples: permita-se silenciar. Cinco minutos já são um ótimo começo. Desligue os estímulos, feche os olhos e apenas observe a respiração. Aos poucos, essa prática se torna um hábito capaz de transformar não apenas seu dia, mas sua vida. Quanto mais silencioso você se torna, mais percebe que há uma voz interior que sempre esteve ali, esperando para ser ouvida. E é dessa escuta que nascem a clareza, a energia e a sabedoria para viver de forma mais consciente e desperta.

Muita saúde a todos.


Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)