06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O que realmente inflama o corpo?


| Tempo de leitura: 3 min

Quando falamos em inflamação, imediatamente associamos à alimentação. De fato, o que colocamos no prato pode ser o combustível para saúde ou para a doença. Alimentos ultraprocessados, excesso de açúcares e gorduras ruins estão relacionados a quadros inflamatórios crônicos que favorecem problemas de saúde. Mas a ciência já mostra que a inflamação vai muito além da comida. Emoções negativas, como ansiedade, raiva, medo, culpa e ressentimento, assim como ambientes e relações tóxicas, também inflamam o corpo e acabam com a nossa saúde.

Estudos recentes em psiconeuroimunologia demonstram que o estresse crônico e a falta de regulação emocional ativam vias inflamatórias potentes no organismo. Emoções negativas liberam hormônios como o cortisol e adrenalina em excesso, o que desregula o sistema nervoso autônomo, prejudicando o sono, alterando o funcionamento intestinal e ativando células do sistema imune, que liberam citocinas inflamatórias. Ou seja, o que sentimos diariamente pode ser tão pró-inflamatório quanto uma dieta rica em fast food.

Essa inflamação silenciosa está por trás de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, obesidade, Alzheimer e depressão. A ciência já aponta a inflamação como denominador comum em quase todos os grandes problemas de saúde da atualidade. Isso nos leva a uma pergunta essencial: qual o verdadeiro caminho para a longevidade e para uma vida saudável?

A resposta está no equilíbrio. Se de um lado precisamos cuidar da nutrição, privilegiando vegetais, frutas, fibras, gorduras boas e proteínas de qualidade, de outro não podemos ignorar a saúde mental e emocional. Momentos de silêncio, práticas de respiração, meditação e até caminhadas sem distrações tecnológicas reduzem a hiperatividade do sistema nervoso simpático e estimulam o tônus vagal, um marcador de resiliência emocional e anti-inflamação. A quietude não é um luxo, mas uma necessidade biológica.

O tônus vagal refere-se à eficiência do nervo vago (a bola da vez da ciência), o maior nervo do sistema parassimpático, responsável por trazer o corpo de volta ao estado de calma, equilíbrio e regeneração. Quanto maior o tônus vagal, melhor a capacidade do organismo de se recuperar do estresse, regular emoções, controlar a inflamação e manter funções vitais em harmonia (como digestão, frequência cardíaca e respiração).

A atividade física é outro pilar. Não apenas melhora a força muscular e a mobilidade, mas libera substâncias chamadas miocinas, que são proteínas e peptídeos produzidos e liberados pelo músculo esquelético quando ele se contrai durante a prática de atividade física. Podemos dizer que o músculo funciona como um “órgão endócrino”, que se comunica com outros sistemas do corpo por meio dessas substâncias. Treinar regularmente reduz marcadores inflamatórios no sangue, melhora o humor, regula a glicemia e contribui para o equilíbrio hormonal, ou seja, têm efeito anti-inflamatório sistêmico e protetor para o cérebro.

O verdadeiro “tratamento anti-inflamatório” não está em uma cápsula milagrosa, mas na soma de escolhas cotidianas: alimentar-se bem, mover o corpo, cultivar boas relações, dormir com qualidade e reservar tempo para silenciar a mente. A longevidade saudável nasce de um corpo e de uma mente que cooperam entre si.

A nutrição vai muito além do prato, envolve nossos pensamentos, o ambiente que escolhemos para viver e as pessoas com quem dividimos nossa energia. A mente equilibrada, o corpo em movimento e o coração em paz são os maiores aliados da nossa saúde. Investir nesse tripé é investir em vitalidade, clareza mental e, principalmente, em anos de vida com qualidade.

O futuro da medicina preventiva e da longevidade está na integração: tratar corpo e mente como uma unidade, cuidando da biologia e das emoções ao mesmo tempo. O que realmente inflama não é só o alimento que ingerimos, mas também a maneira como digerimos a vida. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)