14 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Os pequenos detalhes 


| Tempo de leitura: 3 min

Eu sou como vocês. Me azedo com os rumos do Brasil, a desqualificação dos políticos, a educação que é levada de qualquer jeito (chegamos ao absurdo de nos sentirmos vitoriosos por conseguir alfabetizar crianças aos 10 anos), as filas intermináveis do SUS, apesar de ser um dos melhores sistemas de saúde do mundo, as seitas políticas e religiosas que só servem para que o rebanho seja massa de manobra dos poderosos, ricos e perversos. Ou seja, nada de novo no front. 

Sempre haverá na história da humanidade a possibilidade de uma teocracia, de um partido neofacista emergir, de a gente voltar para a escravidão, de querer subjugar as demais nações, de empobrecer continentes e de acorrentar as mulheres. Aqui, no Brasil, da corrupção - em todas as esferas políticas - engolir de vez esta nação. 

Soma-se a isso uma estatística que descobri essa semana. Jundiaí conseguiu aumentar em 3% suas emissões de gás de efeito estufa. Ou seja, estamos ajudando a matar o planeta. Em vez de metas de zero emissões de carbono, estamos agora emitindo mais e ajudando a piorar a catástrofe climática que estamos inseridos. Gosto de lembrar que a catástrofe já chegou e estamos no meio dela. Na Europa, verão com mais de 45ºC; no Brasil, chuvas torrenciais no Sul; frio intenso no Sudeste, seguido destes dias calorosos e secos. 

No inverno que termina, recorde de internações por questões respiratórias. Bebês na UTI com bronquiolite e a conta que não vai fechar para a saúde pública. Cuidar do ar que respiramos, do planeta que habitamos, é um ato de responsabilidade pública. 

Não vejo a conscientização ambiental de outrora acontecendo nas escolas municipais de Jundiaí. Não vejo a comunidade invocando o correto processo de reciclagem de lixo. Pois é, em nossa cidade, só tratamos 2% do lixo reciclado que recolhemos. Investimos em coleta seletiva, cidadãos separam seus lixos, mas nosso sistema não processa o que chega. 

Além disso, temos esse capitalismo estúpido, embalado em garrafas plásticas e embalagens poluidoras, que nos impulsiona a sempre consumir mais. 

Entretanto, nestes dias azedos, quando chego em casa vou molhar as minhas orquídeas, que floresceram todas juntas. Antigamente, eu as regava uma vez por semana. Agora, um pouquinho de água todo dia. Até o cacto andou pedindo arrego. Ou seja, o ser humano consegue mudar até mesmo o ciclo das plantas. Os bichinhos daqui de casa mal saem no quintal quando o calor aperta. 

São nestes detalhes que percebo que vamos conseguir matar nosso planeta inteiro, em todos os ecossistemas. Onde o homem põe a mão, deserto se fará. Entretanto, para achar poesia para suportar o dia a dia, agora tenho dois ninhos de beija-flores na garagem. Zelo pelos filhotes, não deixando os gatos se aproximarem. Aqueles ovinhos recém-feitos me mostram que a natureza resiste. Nesta casa velha que comprei e reformei, só havia cimento. Hoje tenho quase 200 vasos aqui, uma cerca viva que toma três andares e macaquinhos que passam pelo quintal. E olha que moro bem ao lado da av. Imigrantes! 

Não adianta reclamar dos políticos. A árvore que tem de ser plantada terá de ser semeada por nós mesmos.  Orem para mais quintais floridos nesta cidade e uma arborização completa das ruas, incluindo nosso árido centro da cidade.    

Quer fazer a diferença? Cuide do seu jardim e da praça de seu bairro. Por uma Jundiaí mais florida!

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.