13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Vida frágil


| Tempo de leitura: 3 min

Li “As Crianças de Himmler” – uma história impressionante das maternidades nazistas contada sob o ponto de vista das mulheres. A autora, belga de língua francesa, Caroline de Mulder, com este livro, lançado na França em 2024 teve seus direitos vendidos para mais de dez países.

Passa na Alemanha, em 1944, na primeira maternidade do programa Lebensborn, Heim Hochland, organizado para oferecer um ambiente às mães de “sangue puro” e aos recém-nascidos, filhos dos membros da SS. Fundada em 1936 por Himmler essa maternidade cria os bebês ditos arianos com o objetivo de purificar a Alemanha e transformá-los em futuros senhores da guerra.

Conforme encontramos na contracapa, destaca-se uma jovem francesa, Renée que, após se envolver com um soldado alemão durante a ocupação de Paris, fica grávida. Ciente de que sua família não a aceitará, busca refúgio no Heim Hochland. Lá conhece Helga, uma enfermeira exemplar e fiel ao regime, mas excepcionalmente gentil, que, vendo o destino trágico de algumas mulheres e crianças começa a questionar suas convicções.

Destaco colocação de um dos personagens, Marek, polonês prisioneiro em um campo de concentração próximo à maternidade, que se casara secretamente antes de ser preso e a esposa estava grávida. As crianças que nascessem desses casamentos clandestinos eram raptadas e deportadas para o Reich.  “A vida tem a propensão indecente a triturar a beleza. Nada sobrevive melhor, pensa ele, do que os covardes e os crápulas. Ela também estava grávida. Naqueles tempos de guerra, a vida frágil de uma criança é feita apenas para se extinguir como uma vela entre a polpa do polegar e o indicador. Ave Maria cheia de graça, e ele reza pela alma de seu filho nascituro”.

Enquanto lia o livro, comecei a acompanhar o influenciador digital Felca, que apontou a adultização de crianças e ganhou espaço nas redes sociais, impulsionando a denúncia de exploração da imagem infantil. Focou no perfil de Hytalo, um influencer que possuía um método duvidoso de mostrar menores e acabou sendo preso.

A partir do vídeo de Felca, várias ações surgiram em defesa da criança e adolescente. Muita gente se mexeu como se não soubesse do problema. Encontrei-me com a moça que conheço há alguns anos, contudo sem muita proximidade. É simples e da luta, assim como o marido, para oferecer uma vida melhor aos filhos. Perguntou-me quem era o Felca. Expliquei-lhe sobre o protesto dele. Veio do Norte. Contou-me que moravam em um sítio, com escola próxima, onde as três primeiras séries eram na mesma classe. O professor que veio, quando ela estava no segundo ano, abusava de todas as meninas. Isso a incomodava demais. A mãe a levava. Em seguida, ela pulava o muro e fugia. A mãe não acreditava nela. Ao saber que não estava na sala de aula, apanhava com varinha de marmelo do pai e da mãe. A partir disso, pouco sabe ler, escrever e fazer contas. Mais tarde, veio uma professora para o quarto ano. Quando soube, denunciou o indivíduo, que foi preso por alguns dias e a professora morta no mês posterior. 

Ela protege os filhos o máximo que pode, pois deseja que não carreguem um trauma como o dela.
Triturar crianças é próprio de covardes e crápulas como no nazismo.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)