13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Casais literários


| Tempo de leitura: 2 min

Jorge e Zélia, Alice e Paulo, Júlia e Filinto, Affonso e Marina. Esses nomes formaram casais que compartilharam sua intimidade e literatura. Jorge Amado e Zélia Gattai, Alice Ruiz e Paulo Leminski, Júlia Lopes e Filinto de Almeida, Affonso Romano de Sant’Anna e Marina Colasanti. Nomes conhecidos no mundo literário, com legiões de leitores em épocas distintas. O poeta português Filinto de Almeida dirigia a revista “A Semana Ilustrada”, no Rio de Janeiro, quando conheceu em 1885 a escritora Júlia Lopes. Casaram-se dois anos depois. A Academia Brasileira de Letras (ABL) começou a ser planejada na casa deles, no bairro de Santa Teresa, no Rio. Filinto ingressou na ABL e Júlia ficou de fora, pois os idealizadores da Academia seguiram o modelo francês, em que apenas homens participavam. Em artigo recente nesta página, José Renato Nalini contou tal história.

Os paranaenses Alice Ruiz (1948 - ) e Paulo Leminski (1944-1989) formaram um dos casais mais festejados da literatura brasileira contemporânea. Ambos poetas, tradutores e letristas, agitaram a cena cultural brasileira, com sua inquietação criativa. Cultivaram haicais, poemas curtos originários do extremo oriente. Viveram juntos por cerca de três décadas. Quando Paulo morreu prematuramente, aos 45 anos, Alice lhe dedicou um haicai memorável: “Você deixou tudo/A sua cara/Só pra deixar tudo/Com cara de saudade”. Alice continua na ativa.

O baiano Jorge Amado (1912/2001) e a paulista Zélia Gattai (1916/2008) conheceram-se em 1945, quando participavam de campanha pela anistia de presos políticos da ditadura Vargas. Ambos desquitados, foram morar juntos (ainda não havia divórcio no Brasil). Jorge Amado era escritor aclamado não só no Brasil, como também consolidava sua carreira internacional. Zélia passou a escrever na madureza. Publicou seu primeiro livro aos 63 anos, o volume de memórias “Anarquistas graças a Deus”, em que relembra sua infância e juventude em meio ao movimento operário paulista. O casal ocupou a mesma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Jorge Amado foi eleito em 1961 para a ABL. Ao morrer, em 2001, a cadeira 23 que ele ocupava ficou para a viúva, Zélia, eleita nesse mesmo ano. Jorge e Zélia viveram juntos por 56 anos.

A italiana Marina Colasanti (1937/2025) conheceu o mineiro Affonso Romano de Sant’Anna (1937/2025) no Rio de Janeiro. Casaram-se em 1971 e formaram outra dupla talentosa do mundo literário. Marina nasceu na Eritréia, então possessão italiana na África. Mudou-se com a família para o Brasil na década de 1940. Estudou Belas Artes e trabalhou como ilustradora. Migrou para a literatura e seguiu carreira. Publicou mais de 70 livros, entre volumes de crônicas, literatura infantil, contos e ensaios. Affonso Romano foi professor universitário, ensaísta, poeta e tradutor. De obra também vasta, entre livros de poemas, crítica literária e contos e crônicas, Affonso teve destacada atuação pública. Dirigiu a Biblioteca Nacional, na década de 1990, implantando programa de modernização de bibliotecas públicas Brasil afora. Casais de peso e talento de sobra nessa vida a dois.  

Fernando Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)