06 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Os nossos pensamentos moldam a nossa fisiologia


| Tempo de leitura: 3 min

Nossos pensamentos não ficam apenas no campo abstrato da mente. Eles se traduzem em sinais elétricos e químicos que percorrem todo o nosso corpo, influenciam órgãos, músculos e até mesmo a forma como respiramos. A neurociência já mostrou que pensar, sentir e agir estão interligados por circuitos que envolvem o cérebro, o sistema nervoso autônomo, o intestino e até mesmo o tecido conjuntivo, que dá sustentação ao corpo. Em outras palavras, a maneira como pensamos molda nossa fisiologia!

Quando estamos ansiosos ou preocupados, nosso sistema nervoso entra em estado de alerta. Essa resposta, chamada de “luta ou fuga” foi essencial para a sobrevivência humana em situações de perigo, mas hoje em dia, na vida cotidiana, esta resposta é ativada por e-mails, prazos, contas a pagar e discussões corriqueiras. O coração acelera, os músculos se contraem, a respiração encurta e o cortisol (hormônio do estresse) é liberado em excesso. Se mantido por tempo prolongado, esse estado de defesa cobra um preço alto: dores de cabeça, insônia, dificuldades digestivas, queda na imunidade, dores crônicas e até alterações de memória e concentração.

Em contrapartida, quando cultivamos pensamentos positivos ou praticamos pausas conscientes, como a respiração profunda ou a meditação, o corpo aciona o chamado “sistema nervoso parassimpático”, responsável pelo repouso, digestão e reparo. Nessa condição, a pressão arterial se equilibra, a digestão melhora, os músculos relaxam e o cérebro encontra espaço para reorganizar suas conexões. É nesse momento que surgem criatividade, clareza mental e sensação de bem-estar.

A qualidade do sono também é peça-chave nessa engrenagem. Durante a noite, o cérebro realiza processos de limpeza, reorganiza memórias e regula hormônios essenciais. A privação do sono, por outro lado, aumenta a vulnerabilidade emocional e potencializa estados de ansiedade e irritabilidade. Manter uma boa higiene do sono, com horários regulares, menos telas, iluminação suave e um ambiente tranquilo, é uma forma simples de preservar a saúde do sistema nervoso.

Outro campo fascinante revelado pela ciência é a relação intestino-cérebro. O intestino abriga trilhões de microrganismos que formam a microbiota, e esses pequenos habitantes produzem substâncias que afetam diretamente o humor e a cognição. Estudos mostram que dietas ricas em fibras, vegetais, proteínas de qualidade e alimentos fermentados ajudam a equilibrar essa flora, reduzindo a inflamação e favorecendo a produção de neurotransmissores, como a serotonina. Já o consumo frequente de ultraprocessados e açúcares prejudica essa comunicação, gerando repercussões que vão da fadiga, inflamação, à depressão.

Nesse contexto, o movimento também se apresenta como uma poderosa ferramenta de regulação. A prática de exercícios não apenas fortalece músculos e ossos, mas estimula a plasticidade cerebral, melhora o humor e reduz níveis de estresse. O corpo em movimento favorece a oxigenação, libera endorfinas e reorganiza os padrões de tensão. Até mesmo a fáscia, tecido conectivo que recobre e interliga todo o nosso corpo, responde a esses estímulos, mantendo-se mais flexível e hidratada quando nos movimentamos.

O mais interessante é perceber que essas mudanças não exigem grandes revoluções, mas pequenas escolhas diárias. Respirar fundo em meio a um dia corrido, desconectar-se das telas por alguns minutos, cultivar gratidão, manter uma alimentação nutritiva, caminhadas leves por 20 minutos depois de um dia atribulado e regulação do sono, são atitudes que funcionam como “recados” ao cérebro e ao corpo, dizendo que não há ameaça constante, que está tudo bem.

Nossos pensamentos funcionam como sementes: alguns geram tensão e desgaste, outros florescem em serenidade e saúde. A cada dia, temos a chance de escolher quais sementes plantar. Ao cuidar da mente com hábitos simples e conscientes, cuidamos também do corpo, afinal, fisiologia e pensamento caminham juntos em uma mesma direção.

Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)