Cazuza já cantava “...Mas se você achar/ Que eu tô derrotado/ Saiba que ainda estão rolando os dados/ Porque o tempo, o tempo não para. (...) E vejo o futuro repetir o passado/ Eu vejo um museu de grandes novidades/ O tempo não para/ Não para, não para... Apesar das mudanças, muitas coisas permanecem as mesmas.
Convivi com a velhice desde meu nascimento. Meu pai celebrou os 50 anos, em 1948, com o coração em aplausos pela chegada de meu irmão, seu amado filho. Desembarcou meia hora antes de seu aniversário às 23h30. Cheguei cinco anos e meio depois. Mistura de presente e passado se fez cotidiano em minha história sem estranheza alguma. Lamento, porém, não ter convivido com meus avós paternos: Virgilina e Benedicto e, talvez, por tanto ouvir falar deles, sinto falta de alguns acontecimentos que não vivi. Mistérios de meu dia a dia.
Gilberto Gil em “Antigamente” diz em versos: “Não sei de onde me vem tanta saudade/ Não conheço, na verdade/ Passado meu que me desse o que sofrer/ Só pode ser de mim mesmo essa saudade/ Do meu tempo em que a brincar/ Corria/ Sem nada saber de amor/ Sem nada saber de dor/ Sem ter que chorar por não ter nem saudade...”
Dia 26, foi celebrado na Igreja Católica o “V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos”, que teve como tema “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança”, do Livro do Eclesiástico (14, 2). Faço parte deles nos meus 71 anos. Participei das Missa na capela do meu amado Carmelo São José, presidida pelo querido Dom Vicente Costa, Bispo Emérito.
Falou-nos sobre São Joaquim e Sant’Ana, pais de Nossa Senhora. Eram idosos e não possuíam filhos, o que, de acordo com a tradição, os colocava em situação de inferioridade perante os demais. Afastando-se em recolhimento, por 40 dias, no deserto, a São Joaquim foi revelado que seria pai e dele e de Sant’Ana nasceu Maria e de Maria o Salvador.
Mamis Irene era devotíssima da Senhora Sant’Ana como intercessora junto a Deus. Afirmava que a filha sempre atende o pedido da mãe, no caso Nossa Senhora, e teve dela acenos de luz nos últimos anos de sua vida conosco. Sou testemunha. Creio firmemente que aconteceu.
Voltando a Dom Vicente Costa, fez ele uma homilia lindíssima e plena de encanto a respeito do tema. Bênção, consolo e graça se misturaram em sua fala.
Destacou que a história pessoal não se esgota: a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens e a inexperiência dos jovens necessita do testemunho dos idosos. Que seja essa a nossa prática.
De acordo com o Santo Padre Leão XIV, somos chamados a viver, com os idosos, a libertação da solidão e do abandono, derrubando os muros das indiferença no qual os idosos estão frequentemente encerrados, devolvendo-lhes a estima e o afeto. E que tenhamos clareza de que nenhuma dificuldade pode tirar-nos a liberdade de amar e rezar.
Abrir o nosso coração aos necessitados é ser sinal de esperança em todas as idades.
Ao final da Missa, Dom Vicente, gentilmente, me ofereceu as anotação de sua homilia. Emocionei-me! Aceno do Céu de Sant’Ana e São Joaquim, que retribuo a Dom Vicente com ternura e estima.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)