Dia destes, passeando pelo mercado numa cidadezinha do interior de São Paulo, me deparei com uma etiqueta de tecido, na qual estava bordada a inscrição: “handmade”. Jamais imaginaria encontrar um termo em inglês qualificando uma roupa de bebê, confeccionado pelas mãos de uma senhora simpática, de meia idade, com agulhas de tricô enormes, tecendo com lã, um casaquinho, com pequenos desenhos delicados.
Afinal, o que significa “handmade” nos dias hoje, onde quase tudo que era “feito a mão”, com exclusividade, originalidade, poucas peças, foi substituído pela automação tecnológica, produção em larga escala, com modelos estandardizados? Handmade é tudo aquilo que é feito sem a intermediação de máquinas industriais. Envolve tempo, técnica, atenção aos detalhes e, sobretudo, uma relação íntima entre o criador e sua obra. Mais do que um processo artesanal, representa uma escolha estratégica que comunica valores profundos, tanto para marcas quanto para consumidores.
Em tempos de consumo consciente, produtos handmade ganham relevância por sua carga emocional, simbólica e cultural. Não são apenas objetos. São técnicas manuais que, muitas vezes, passaram de geração em geração. Representam histórias que valorizam o tempo e a personalização, enquanto a produção tecnológica se apoia em eficiência, escala e replicabilidade.
Tanto o handmade quanto a tecnologia comunicam valores essenciais para o posicionamento das marcas, ainda que por caminhos distintos. É importante destacar o valor percebido pelo consumidor que traz a rebordo uma singularidade emocional.
Quando as marcas optam pela produção handmade e expressam sua identidade, através da linguagem do afeto, seu posicionamento demonstra estar conectado a valores humanos, culturais ou sustentáveis. Atrai consumidores que valorizam o tempo investido, a personalização e o vínculo emocional com o criador. O valor aqui está na autenticidade e na conexão. Por outro lado, a tecnologia comunica inovação, eficiência e competitividade. Empresas que investem em automação e processos digitais demonstram foco em performance, praticidade e alcance de mercado, especialmente em contextos que exigem escala e agilidade. O valor, nesse caso, está na capacidade de entrega, na padronização e na acessibilidade.
Atualmente, o verdadeiro luxo está na convergência ao unir o artesanal com o tecnológico. Ambas as abordagens geram valor em esferas distintas, mas complementares. O desafio estratégico está em reconhecer qual desses valores é mais relevante para o público-alvo em cada contexto de negócio e como integrá-los, quando possível, em soluções híbridas que unam o melhor dos dois mundos.
A fusão entre elas pode gerar um diferencial estratégico, trazendo eficiência sem perder identidade, criando negócios de valor. Alguns exemplos são encontrados em marcas autorais que vendem online, mas mantêm o toque humano na criação e no atendimento; artesãos que utilizam tecnologia para ampliar visibilidade ou identificar tendências, ou mesmo designers que integram impressão 3D com acabamentos manuais.
Num cenário onde tudo é veloz, automatizado e replicável, o handmade emerge como manifesto de presença, atenção e valor humano. Não se trata de rejeitar a tecnologia, e sim, refletir sobre qual história estamos contando ao escolher como produzir.
Rosângela Portela é jornalista, mentora e facilitadora
(rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)