Na semana passada, abordamos os desafios que o envelhecimento da população, exposto pelo Censo Demográfico de 2022, traz para a economia, a previdência, a assistência social, a saúde e a educação. Neste texto, trataremos de outros aspectos que estão mudando a cara do Brasil, como os novos fluxos migratórios.
O novo mapa da migração interna revelado pela pesquisa domiciliar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra uma mudança significativa. Os centros urbanos do Sudeste, que historicamente receberam migrantes, perderam protagonismo como polos de atração.
Pela primeira vez desde o início da série histórica, em 1991, os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro registraram mais saídas do que entradas de moradores vindos de outros estados, com 89,5 mil e 165 mil pessoas deixando sua terra natal, respectivamente. Trata-se de uma mudança inédita no padrão de redistribuição populacional.
O fluxo atual reflete a força e o dinamismo do agronegócio brasileiro. Os estados que mais atraíram habitantes são, em primeiro lugar, Santa Catarina (saldo migratório de 354 mil pessoas), cuja região oeste é uma potência agropecuária que se destaca na produção de carne de aves, suínos e leite. Em seguida, vêm Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná. A população do Centro-Oeste cresceu 15,8% no período.
Na outra ponta, o Rio de Janeiro encabeça as Unidades da Federação que mais perderam habitantes, seguido por Maranhão, Distrito Federal, Pará e São Paulo. Especialistas acreditam que o fenômeno da desindustrialização da economia pode ter tirado a força de São Paulo para atrair mão de obra. De todo modo, nosso estado segue sendo o principal centro econômico do país.
Os migrantes internos são, sobretudo, jovens: uma em cada cinco pessoas que deixaram sua terra natal tem entre 25 e 29 anos. Segundo os demógrafos, isso reforça que a movimentação deve estar diretamente ligada à entrada na vida adulta, quando se inicia a procura por oportunidades de trabalho, além de estudo, moradia e formação de família.
Pela primeira vez também, desde 1960, o Brasil voltou a atrair estrangeiros. O Censo registrou um aumento de 70,3% de imigrantes de outros países entre 2010 (592 mil pessoas) e 2022 (1 milhão de pessoas), com os venezuelanos assumindo o topo no lugar dos portugueses. Diante dos problemas políticos e econômicos que ocorrem no país vizinho, a imigração venezuelana saltou de 2 mil para 199 mil pessoas.
Com a fecundidade das brasileiras em patamares mínimos inéditos (1,55 filho por mulher) -- abaixo da taxa de reposição populacional (2,1 filho por mulher) –, a atração de estrangeiros em idade de trabalhar pode ajudar a compor a população economicamente ativa. É o que ocorre em países que já fizeram a transição demográfica, com redução do número de jovens e aumento do número de idosos, como Portugal. Lá, a força de trabalho segue crescendo graças aos imigrantes, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Vale destacar, ainda, que a diversidade racial ganhou maior visibilidade neste Censo. Pela primeira vez, mais da metade da população (56,1%) se declarou preta ou parda. Ao mesmo tempo que este dado evidencia uma maior conscientização racial, exige políticas de inclusão mais robustas, sobretudo em um país onde a cor da pele ainda é um forte marcador de desigualdades sociais.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)