13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Âncora


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Penso que é próprio do ser humano buscar uma âncora. Vivemos em mar revolto. Não existe idade e vida, na minha opinião, sem ondas que trazem a sensação de afogamento.

De acordo com a etimologia, a palavra âncora passou do grego antigo para o latim e depois para o português, mantendo o significado de um objeto usado para fixar algo em um local, seja uma embarcação ou, metaforicamente, a esperança.

De Anavitória a música “Navio ancorado no ar”: “Alerta de perigo num lugar seguro/ Um navio ancorado no ar. /A gente tá sempre, de alguma maneira, / buscando um lugar pra ir numa atenção ao próximo passo.”

De Clarice Lispector: “Nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respirar nossas fraquezas”. E no reconhecimento de nossas tempestades, como escreveu alguém, se reconhece o valor da âncora.

Sou muito grata a nossos pais por, desde pequenina, me mostrarem que o Céu é o melhor porto para se atracar. Embora tenha vacilado e vacile no meu barco, aquilo que mais me sustenta tem um fio ligado à estrela de Belém.

A cada dia, preciso mais do Céu. Ele me dá coragem, paz e companhia. E como Deus é lindo, não apenas na contemplação da natureza, mas em Seu Amor por todas as criaturas, das margens e do centro, vindo em busca delas, assim como me sonda, me acolhe de volta e murmura versos de ternura. Retribuir a esse Amor está em dois mandamentos: amá-Lo sobre todas as coisas e amar o próximo, mesmo que esteja ele envolto na fuligem do cotidiano. Simpatias e antipatias são antídoto contra o amor ao próximo anunciado por Jesus, ao amor samaritano.

Em sua homilia de 13 de julho, no Santuário Santa Rita de Cássia, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor e Pároco, comentou que aquele que está caído é porque fez a experiência da força do mal. E inúmeras vezes está abaixo do fundo do poço, na total desesperança. Ninguém deseja cair, mas é comum confiarmos mais em nossa fraqueza do que na força de Deus. Nosso próximo é aquele que está tombado por nossos caminhos e a quem devemos oferecer o óleo da consolação e o vinho da esperança. Compreendo que a âncora, que recebi para me prender ao Céu, somente permanecerá se eu perceber Jesus que sofre no desviado e levar comigo, por amar a Deus sobre todas as coisas, o óleo da consolação e o vinho da esperança.

No domingo passado, a primeira leitura da Missa (Gênesis 18,1-10), contava sobre o Senhor aparecer a Abraão junto ao carvalho de Mambré sentado à entrada de sua tenda e, ao ver três homens de pé perto dele, ofereceu-lhes hospitalidade. Explicou, o Padre Márcio Felipe, que Deus nos visita não apenas nos momentos fáceis de nossa vida. Nós que não percebemos a presença dEle.  O carvalho em si está seco, mas ainda de pé, protegido por uma estrutura metálica. Apesar de desidratado, o carvalho ainda é um ponto focal, e relatos mencionam que há rebentos surgindo de suas raízes. Deus quis aparecer a Abraão justamente neste carvalho de Mambré para mostrar que, mesmo nos ressequidos, há um sinal de vida.

Destacou que Ele quer fazer hospedaria em nós, mas somente pode hospedá-Lo quem não julga, não destrói o próximo, cuida da sua própria vida, olhando para a Cruz.

Bendito seja Deus que me ofereceu, por sua graça, a âncora do Céu e que me dê a valentia da fidelidade!

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)