15 de dezembro de 2025
OPINIÃO

A exposição na era digital 


| Tempo de leitura: 2 min

Caro leitor, vivemos na era da superexposição. Nunca antes foi tão comum – e até esperado – que cada momento da vida seja compartilhado publicamente. Um café da manhã bonito, um treino na academia, um presente recebido, a roupa do dia, a viagem dos sonhos, o prato do almoço, a conquista profissional ou até mesmo a dor da perda. Tudo pode virar conteúdo. Mas por que sentimos tanta necessidade de mostrar nossas vidas na internet?

As redes sociais nasceram com a promessa de aproximar pessoas, encurtar distâncias e facilitar a comunicação. Mas, com o passar do tempo, elas se tornaram vitrines do cotidiano, onde cada usuário é ao mesmo tempo espectador e protagonista. A linha entre o público e o privado se diluiu. O que antes ficava restrito ao círculo íntimo passou a ser exibido para centenas ou milhares de seguidores – conhecidos ou não.

Por trás da exposição constante, há motivações profundas. O ser humano é, por natureza, um ser social. Temos necessidade de pertencimento, de sermos vistos, validados, aceitos. A curtida, o comentário e o compartilhamento funcionam como pequenos reforços positivos, liberando dopamina no cérebro e alimentando o desejo de continuar postando. Em muitos casos, a internet se torna um espelho que devolve um reflexo idealizado de quem gostaríamos de ser.

Há, também, o impulso da comparação. As redes nos colocam em contato com recortes polidos e cuidadosamente editados da vida alheia. E, para não ficar atrás, muitos tentam mostrar que também vivem bem, que são felizes, produtivos e bem-sucedidos. Criamos performances de felicidade. E, em meio a isso, perdemos de vista o que é real.

Esse movimento, embora compreensível, carrega riscos. A busca incessante por aprovação pode gerar ansiedade, baixa autoestima e até um sentimento constante de insuficiência. Além disso, a exposição exagerada pode colocar em risco a privacidade, a segurança e até a saúde mental de quem compartilha demais. Há ainda a falsa sensação de intimidade que leva muitos a acreditarem que têm o direito de julgar, criticar ou opinar sobre a vida dos outros.

Isso não significa que devemos abandonar as redes ou deixar de compartilhar alegrias e conquistas. O ponto está no equilíbrio. É preciso refletir: estou compartilhando isso por vontade própria ou porque me sinto pressionado a mostrar algo? Estou vivendo o momento ou apenas registrando-o para provar algo a alguém?

A internet pode ser uma ferramenta poderosa de conexão e expressão. Mas, para que seja saudável, é fundamental desenvolver consciência sobre o que mostramos, por que mostramos e qual impacto isso tem em nossa vida. Às vezes, viver plenamente significa, justamente, guardar certos momentos só para si.

Pense nisso.

Micéia Lima Izidoro é professora (miceialimaizidoro@gmail.com)