Com a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto de 2025, anunciada por Donald Trump em carta ao presidente Lula, o mundo assiste a um novo capítulo do protecionismo global. O argumento norte-americano mistura geopolítica, comércio e ideologia, citando o julgamento de Jair Bolsonaro como parte do embasamento para a medida. Essa decisão marca uma ruptura clara com o espírito da globalização que norteou as últimas décadas. A ideia de cadeias de valor integradas, trocas multilaterais e cooperação econômica parece estar dando lugar a uma lógica de confronto e isolamento.
Em Jundiaí, como o JJ noticiou com exclusividade, a nova taxação impactará R$ 250 milhões de exportações para a América. No Brasil como um todo, o agronegócio será o mais atingido, mas faço uma ressalva, sem as commodities brasileiras, o americano também pagará mais para se alimentar.
Commodities como café, suco de laranja e carnes estão sob pressão, com volatilidade nos preços e incerteza nos contratos futuros. O real recuou nos mercados, encarecendo insumos e pressionando a inflação. Empresas brasileiras que operam com margens estreitas terão que rever sua estratégia de mercado, avaliar novos destinos para seus produtos e enfrentar custos maiores para competir internacionalmente.
A resposta brasileira também sinaliza uma mudança de postura. O presidente Lula afirmou que o país pode acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) e recorrer à recém-sancionada Lei da Reciprocidade Comercial, autorizando tarifas equivalentes contra produtos norte-americanos. Isso significa um ambiente de tensão e retaliações, onde o comércio internacional passa a ser usado como ferramenta política, e não apenas econômica. O risco é claro: a previsibilidade desaparece, e a confiança nos acordos multilaterais se esvai.
Nesse cenário, o Brasil será pressionado a escolher seus parceiros estratégicos com mais clareza. O movimento de Trump em relação à China já havia iniciado uma reconfiguração das cadeias globais de produção. Agora, com o Brasil diretamente afetado, a urgência de fortalecer acordos com União Europeia, Mercosul, países asiáticos e vizinhos latino-americanos cresce significativamente. A lógica do "friend-shoring" ganha força: quem estiver fora dos blocos políticos dominantes, pagará o preço.
Mais do que uma medida comercial, a tarifação de Trump é simbólica. Ela representa o fim de uma era em que a globalização parecia irreversível. Os negócios brasileiros precisam entender que a estabilidade das últimas décadas está sendo substituída por um ambiente mais volátil, fragmentado e imprevisível. O momento exige resiliência, adaptação e, sobretudo, uma visão de longo prazo. Não se trata apenas de reagir às tarifas, mas de reposicionar o Brasil como um ator relevante em um novo jogo global, onde soberania econômica, inovação e estratégia serão decisivos. A globalização, como a conhecíamos, não existe mais. E os líderes que compreenderem isso primeiro sairão na frente.
Politicamente falando, os EUA não podem meter seu bedelho na soberania nacional. Avante Brasil!
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.