O universo do fitness está se transformando, vocês perceberam? Se antes o foco era apenas em “corpos sarados” e treinos exaustivos, no famoso “no pain, no gain” (sem dor, sem ganho), hoje o olhar está mais maduro, mais completo e, acima de tudo, mais humano. Academias antenadas, estúdios boutique e centros de movimento pelo mundo vêm adaptando suas grades com um novo propósito: unir estética e performance à saúde real, com ênfase em longevidade, funcionalidade e saúde mental. E lentamente, já percebo começar essa nova tendência aqui em nosso país, principalmente nas grandes capitais.
Essa mudança reflete uma nova consciência coletiva, já que as pessoas querem sim ter um corpo bonito, mas querem mais do que isso: desejam sentir-se bem, mover-se com liberdade, prevenir dores e viver com mais qualidade. E é nessa direção que as novas tendências apontam.
Os exercícios suaves e conscientes, como mobilidade tridimensional, alongamentos ativos, treinamentos posturais, treinamentos respiratórios e práticas que envolvem a fáscia, estão ganhando protagonismo. Chamados de “gentle exercises” ou “exercícios gentis”, essas aulas não são “leves” no sentido pejorativo, pelo contrário. São movimentos profundos, inteligentes, que trabalham o corpo de dentro para fora, respeitando o ritmo e as necessidades individuais. Esses métodos, como o ELDOA, o Low Pressure Fitness (LPF) e mobilizações fasciais, têm sido cada vez mais integrados às rotinas de treino, porque promovem saúde articular, melhoram a postura, aumentam a consciência corporal e ajudam a reorganizar o sistema fascial, aquela rede que conecta tudo em nós, da cabeça aos pés.
Em contrapartida, aulas competitivas têm ganhado espaço por serem dinâmicas e super motivacionais, um exemplo seria o Hyrox, que vem ganhando espaço como a nova febre do alto desempenho. Uma competição que mistura corrida e estações de exercícios funcionais de alta intensidade, combinando resistência, força e resiliência mental. E o mais interessante é que ele é democrático: qualquer pessoa pode participar, porque a ideia é superar a si mesmo, dentro do seu próprio ritmo. Essa é uma grande sacada: competir consigo mesmo, buscando melhorar a cada treino.
As aulas de Spinning já vem fazendo isso, dentre outras atividades que perceberam que motivando o aluno ele rende mais e tem mais resultados.
A musculação continua sendo um dos pilares do treinamento físico, mas hoje ela é vista sob uma nova perspectiva. Deixou de ser apenas sobre estética ou levantamento de grandes cargas, agora ela é recomendada por profissionais da saúde como uma ferramenta essencial para promover proteção, saúde metabólica e longevidade. O treino com pesos ganhou respaldo da comunidade médica não apenas pelos benefícios musculoesqueléticos, mas também pelos impactos positivos no cérebro, na prevenção de doenças crônicas e no estímulo do sistema nervoso como um todo. Ela se integra às descobertas da ciência da fáscia, mostrando como a força aplicada com consciência pode melhorar a transmissão de tensões pelo corpo, otimizar o controle motor e prevenir lesões. A musculação evoluiu: hoje, treinar força envolve entender como você se move, como ativa seu core, organiza sua coluna e prepara suas fáscias e articulações para suportar e responder bem à carga. É uma abordagem mais inteligente, funcional e integrada ao corpo como um todo. Além do mais, ela respeita a individualidade, integra exercícios corretivos e valoriza a qualidade do movimento. Tudo isso favorece um corpo forte, com menor risco de lesão e mais preparado para os desafios do dia a dia ou do esporte. Meu desabafo: eu nem acredito que este momento chegou!
As aulas coletivas estão cada dia mais diversas e mais completas do que nunca. Hoje encontramos desde treinos de alta intensidade em grupo até circuitos que misturam mobilidade, funcional, respiração e até mesmo pausas conscientes. Entre em qualquer academia que disponha de aulas em grupo e veja como são disputadas. O grupo motiva, engaja, fortalece laços sociais e oferece uma sensação de pertencimento, fator chave para manter a constância e transformar o exercício físico em um hábito de bem-estar e diversão. As academias que entendem isso estão criando experiências coletivas que vão além da música alta e do suor. Elas promovem encontros humanos, a chave para o sucesso.
Outro motivo de alegria em escrever este artigo para vocês: a saúde mental entrou na grade de aulas. Nunca se falou tanto sobre isso, e finalmente ela chegou também às academias. Aulas de respiração, meditação guiada, yoga terapêutico, relaxamento guiado, tai chi, sound healing, dentre outras, vêm ocupando um espaço essencial na rotina dos alunos. Em um mundo hiperconectado, oferecer momentos de pausa e reconexão é mais do que uma tendência: é uma necessidade. Práticas que atuam sobre o sistema nervoso parassimpático, como as técnicas de grounding e respiração diafragmática, por exemplo, modulam o nervo vago, reduzem a ansiedade e ampliam o foco e a clareza mental, algo essencial para o corpo e para o cérebro.
A saúde real é o novo fitness. Vivemos uma nova era no movimento. Não se trata mais apenas de queimar calorias ou ganhar massa. Trata-se de nutrir o corpo com movimento inteligente, de construir resiliência física e emocional, de prevenir dores e viver com autonomia. Com mais de 20 anos de experiência em movimento, posso afirmar: quando unimos ciência do movimento, respeito ao corpo e conexão corpo-mente, o treino se transforma em um caminho de evolução e bem-estar. Que venham as tendências, com ciência, consciência e alma. Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)