A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as importações do Brasil, a partir de 1º de agosto, já começa a gerar preocupações concretas em Jundiaí. Segundo dados do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp-Jundiaí), o município exportou, em 2024, cerca de R$ 1 bilhão, sendo 25% desse total destinados aos EUA. Anunciada nesta quarta-feira (9), a medida — classificada como “retaliação política” pelo presidente norte-americano Donald Trump — atinge diretamente exportadores brasileiros e traz impacto negativo significativo para cidades com forte perfil industrial e logístico, como Jundiaí e demais municípios da região. Os principais produtos exportados por Jundiaí são: itens automotivos, equipamentos elétricos e máquinas.
“A taxação é uma medida prejudicial para a economia brasileira, pois os Estados Unidos são um dos maiores parceiros comerciais do país e também da região. Quando há diminuição da exportação, há diminuição da produção, da demanda por emprego e, consequentemente, de renda. Isso afeta toda a dinâmica regional”, avalia o diretor de Comércio Exterior do Ciesp-Jundiaí, Marcio Ribeiro Julio. “Vale ressaltar que a busca por outros mercados é um movimento lento, que exige planejamento; portanto, não é uma alternativa imediata”, conclui.
Para ele, o próximo passo do Governo deve ser a tentativa de mediar essa questão para reduzir os impactos com urgência. “Os EUA adotaram a mesma estratégia com outros países, e a iniciativa foi a cartada inicial para atrair esses países às negociações. Agora, temos que aguardar os próximos passos”, afirma.
CIESP Estadual se posiciona
Em nota divulgada à imprensa, o Ciesp estadual manifestou “profunda preocupação diante do atual embate entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que ultrapassa os limites da diplomacia ao utilizar a questão tarifária como instrumento de disputa pessoal e ideológica.”
A nota ressalta que a postura causa prejuízos imediatos às relações comerciais e afeta as forças produtivas, os trabalhadores e a população. “Faltam argumentos concretos em favor dos EUA para uma tarifa de 50% sobre as importações do Brasil. Não procede a justificativa do presidente estadunidense sobre a balança de pagamentos entre os dois países lhes ser desfavorável, já que apenas na última década o superávit a favor deles foi de US$ 91,6 bilhões no comércio de bens. E, se incluído o comércio de serviços, o superávit dos EUA chega a US$ 256,9 bilhões.”
Por fim, a nota afirma que a soberania do Brasil, assim como a de qualquer nação, deve ser respeitada, e questões pessoais e ideológicas não podem prevalecer nas relações internacionais, pois os danos causados são severos e de difícil reparação. “O diálogo diplomático deve ser respeitado — com fatos, não com versões distorcidas deles.”
Questionado sobre como a medida poderia impactar o orçamento municipal, o vice-prefeito Ricardo Benassi informou: “Caso as tarifas tornem os produtos jundiaienses menos competitivos, as empresas locais poderão reavaliar sua estratégia. Essas decisões, contudo, são de natureza empresarial e não envolvem diretamente a gestão municipal. Se a taxação se mantiver, podemos, sim, ter queda na arrecadação, mas ainda não podemos mensurar os percentuais.”