A mais recente pesquisa “Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho”, da Fiesp, expôs uma realidade desafiadora: 77% dos industriais enfrentaram dificuldades para contratar funcionários ao longo do último ano. Esse e outros dados sobre o tema foram apresentados e debatidos no evento “A Força que Move a Indústria”, na terça-feira (27/5), promovido por Fiesp, Ciesp e Senai-SP.
Há algum tempo, os segmentos produtivos, inclusive a indústria, falam de um possível apagão de mão de obra. Para enfrentar o problema de forma efetiva, é preciso partir de um diagnóstico correto, com dados. Por isso, a Fiesp foi a campo ouvir os empresários – o levantamento foi realizado com 369 indústrias de transformação de São Paulo.
O primeiro ponto a ser considerado é que o país vive um momento de alta ocupação no mercado de trabalho para os padrões brasileiros. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a taxa de desemprego nacional para o trimestre encerrado em abril. O índice foi de 6,6%.
Para o período, foi o patamar mais baixo da série histórica, iniciada em 2012. Por si só, este indicador mostra uma conjuntura aquecida, favorável a quem procura trabalho. Em São Paulo, o último dado disponível, do primeiro trimestre do ano, desemprego registrado foi de 6,2%.
A pesquisa da Fiesp pontua que, na busca por candidatos, os empresários se deparam com uma questão antiga, que tem a ver com deficiências educacionais: a falta de qualificação. Esse item foi citado por 64,5% das indústrias como principal obstáculo, seguido da falta de interesse (55%) e de experiência (44,2%).
Além da formação técnica, o desinteresse de parte da população jovem pelo trabalho industrial também é um desafio. A maior dificuldade de contratação (61%) recai sobre candidatos de 21 a 30 anos – faixa que representa o auge da força de trabalho.
Dados oficiais mostram que, entre os jovens até 24 anos, houve uma redução da participação deste grupo na indústria de transformação de 26,49%. Em 2024, esta faixa etária representava 13,75% dos empregados do setor sendo que, em 2006, era 21,49%.
Por nota média de classificação, os empresários apontam como principais entraves para a contratação de pessoal a concorrência salarial alta (5,4 pontos), o fato de outros setores oferecerem maiores ou melhores benefícios (5,4 pontos) e a assistência governamental (4,8 pontos).
Em uma análise mais detalhada, por porte da empresa os resultados mudam. Para as micro, pesa mais a pouca ou falta de incentivo à qualificação (5,4 pontos); para as pequenas, os maiores ou melhores benefícios oferecidos por outros setores (5,4 pontos); já para as médias, a concorrência salarial alta (6,1 pontos); e para as grandes, o fato de as vagas serem com pouca ou nenhuma flexibilidade de horários (6,6 pontos).
As áreas que os empresários relatam ter mais necessidade de mão de obra são a fabril ou operacional e manutenção. São justamente as áreas ligadas à produção, ou seja, o coração da indústria.
Há outros pontos a serem considerados, conforme apontou o Senai-SP em sua exposição. Os salários de admissão na indústria não são mais tão atraentes. Entre o mercado formal e o informal os valores pagos são similares, sobretudo com a expansão dos trabalhos por plataforma. E há um crescimento expressivo dos microempreendedores individuais.
Para reverter – ou mitigar – este quadro, é necessário agir em duas frentes: aumentar a produtividade, seja por meio de ganhos de eficiência, processos mais azeitados ou digitalização, e maior conexão entre os meios de formação de mão de obra, como o Senai-SP, e os setores produtivos.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)