22 de dezembro de 2025
OPINIÃO

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| Tempo de leitura: 3 min

Fiquei uma semana em Madri de férias, com três missões auto-impostas, conhecer os museus, arte flamenca e comer as iguarias típicas. Tive sucesso em todas e ainda consegui fazer com que o partner desta viagem se encantasse pela Espanha. Entretanto, logo ao chegar no imenso aeroporto madrileño, reparei imediatamente na quantidade de sem-tetos que estavam dormindo ali. Segundo a imprensa, mais de 400 se abrigavam do frio da noite dentro do aeroporto.

Durante a semana, vi que as autoridades iam impedir o acesso ao local. Ninguém falou de abrigamento. Pelas ruas, eventualmente, a gente via pessoas pedindo esmolas. Um e outro dormindo pelas ruas. Mas, ao contrário do Brasil, esses homeless causavam comoção em quem passava.

O desabrigamento é um problema mundial - há capitais na Europa em que o problema é bem pior que Madri. Os espanhois, generosos, estão se esforçando para regularizar a imigração, ao contrário da Itália, que vem recrudescendo as normas. Estamos falando aqui de desabrigados imigratórios, por questões econômicas e políticas. Com a catástrofe climática que se avizinha, o problema será exponencial.

Durante a minha estada, a região de Valencia foi varrida por uma tempestade, que causou uma tragédia - algo bem comum no Brasil. Entretanto, a Defesa Civil de lá emitiu o alerta uma hora e meia atrasado. Essa questão foi manchete nacional, com políticos exigindo, inclusive, a queda de uma autoridade provincial, algo parecido com o governador daqui.  

É claro que a gente assiste a estes episódios com o viés que conhecemos bem. A contrapartida está na segurança geral que se sente ali. Eu fiquei extasiada em poder usar meu celular nas ruas, com o Google Maps na mão, sem medo de ser assaltada. (Meu filho tinha exigido que eu comprasse fones novos para usar o celular escondido e ser guiada somente pela voz do Maps). Não precisei deste subterfúgio. Não há riscos pelas ruas. E, mesmo estando na região central, não vi os famosos pick pockets.

A outra questão foi usar o metrô à noite, sem medo. Não da plataforma em si, mas em andar até o hotel já em altas horas da noite. Tudo feito sem problemas, com muita gente pelas ruas, em segurança total. Isso é extremamente proibido à minha filha, que mora em SP, por exemplo.

Não creio que segurança venha de policiamento. Segurança vem de qualidade de vida, educação, saúde, ruas bem iluminadas, lazer à disposição da população, cultura e arte.

Outra coisa que me chamou a atenção também, jovens discutindo Shakespeare, lendo em inglês com naturalidade, enquanto trabalhavam como recepcionistas nos hoteis. Muito diferente da nossa realidade, em que 30% da população é de pessoas que não conseguem entender o que leem.

Não fiz este texto para comparar realidades, mas para mostrar como podemos avançar. Somos uma nação jovem, onde tudo ainda está para ser construído (e parodiando Caetano Veloso,  já parece ruína). Olhamos para o futuro sem entender direito o que se avizinha com a Inteligência Artificial. De vez em quando, nossos políticos sugerem ações que deveriam ter sido feitas no século passado e são ultrapassadíssimas. O govtech pouco avança, mas quando avançar vai transformar a gestão pública. Quando os cidadãos tiverem na palma das mãos o conhecimento sobre serviços, orçamento e gastos, iremos exigir mais. E, de boa, o que falta mesmo é a gente exigir mais. Porque, afinal, pagamos os impostos mais caros do planeta e os governantes trabalham para nós, não ao contrário. Ao chegar, aquela tragédia anunciada - filas e mais filas no Aeroporto de Guarulhos. Porque se há um lugar que não avança em qualidade, tecnologia e inovação é atendimento aeroportuário né? Mas isso será um bate-papo para depois.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.