Saudações nobres pessoas que, também, por aqui, me acompanham.
Encerradas uma das maiores manifestações de maior vulto, o Carnaval, como de costume e de franca comprovando e trazendo muita alegria, expansão e profusão cultural em sentido amplo, das quais, em grande parte as agremiações (Escolas de Samba), sim maiúsculas pois realmente “Escolas”, ensinando respeito, história, disciplina, música, composição, harmonia, coreografia, estilo, desenho, engenharia, medicina, segurança, educação, beleza, artes, religião e muito mais.
Como sabemos, algumas manifestações, no mais das vezes, sofrem ataques à cultura e em especial a religião africana, muita vez irados e, obviamente, desnecessários, pois que, em vários Estados (Norte-Nordeste, Sudeste, Sul) abordam outros segmentos e se repetem todos os anos em maioria enaltecendo.
Infelizmente o que causa preocupação são as ofensas e demonizações decorrentes da inegável falta de conhecimento e típico racismo religioso, bastando analisar as imagens e apresentações afro-religiosas, frise-se, em todos os momentos rogando por “portas abertas”, “prosperidade”, “saúde”, “proteção”, “fartura”, “crescimento”, “afastamento das maldades”, “proteção à natureza e sua vinculação a ela”, “força”, “combate as maldades, à inveja”, reparem que, em momento algum, se desejou mal a quem quer que fosse, quer seja nos samba-enredos, quer sejam nas manifestações, artes cênicas e danças!
Como também em todos os anos, muitas pessoas se recolhem em retiros introspectivos, dos quais, em pequenos números, insistem em considerar as manifestações de forma pejorativa e demoníaca. Os (retiros) que se limitam a avaliação íntima, pensamentos, observações e reflexões de ordem eminentemente pessoal, merecem todo e ampliado respeito.
O que desperta muita atenção são as manifestações de ódio e demonização, as quais merecem robusto repúdio, pois que, para conquistar seguidores, não se exige tal comportamento, muito ao contrário, há que se conquistar com bons exemplos e jamais impondo medo, demérito ou algo que o valha.
Vimos observando que as manifestações populares, religião, envolvendo culinária, esportes são maldosamente perseguidos por determinado segmento religioso e, como dito acima, por absoluta falta de conhecimento, que, estranhamente os autorizam a tentar apropriação, como recaiu sobre a capoeira, o acarajé e agora até blocos carnavalescos!!!
Interessante também notar que contamos -, em nosso querido Brasil - com uma profusão de manifestações religiosas, das quais destacamos o “Cirio de Nazaré”, realizado no dia 8 de setembro, reunindo milhões de seguidores, patrimônio Cultural da Unesco enquanto maior aglomeração católica do Mundo; as em homenagens a Nossa Senhora de Aparecida - Padroeira do Brasil (feriado); a Marcha para Jesus; Paixão de Cristo também feriado Nacional; Finados (feriado); Folia de Reis; Natal; Toré (cultural indígena); Iyemanjá (dia 2 de fevereiro); Hana Matsuri (comemorando nascimento de Buda); Gideões Missionários; Cavalgadas (Nordeste); “lavagem das escadarias”; “Nossa Senhora dos Navegantes”, ... das quais apenas as de matriz afro é que são agredidas! Repararam nisso?
Qual seria a motivação dos ataques? A resposta só pode ser única. Por que é “coisa de preto”, muito embora os negros são encontrados, em grande quantidade, nas neo-pentecostais e os brancos nas africanas!
Os ataques praticados contra igreja católica e afro ocorrem sob a alegação da adoração a imagens, que não autoriza quem quer que seja, instituição ou pessoal a agredir e, a sensação da impunidade leva a esse estado de coisas, sendo certo que contamos com legislação potente a coibir esses abusos contra os agressores diretamente e aos que os instigaram enquanto líder religioso e foco do segmento que representa.
A sensação de impunidade, como exposto, se dá também pela falta de conhecimento das autoridades, às quais até por recomendação do Conselho Nacional de Justiça, devem passar por formação continuada em gênero, raça e etnia.
O conhecimento verdadeiro (letramento racial) liberta e garante o respeito.
Eginaldo Honório é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP (eginaldo.honorio@gmail.com)