O número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem crescido em Jundiaí. De acordo com dados da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), entre 2023 e 2025 foram registrados 186 novos laudos, sendo 180 em crianças e seis em adultos pela APAE Jundiaí. Apesar do aumento nos diagnósticos, o município ainda enfrenta dificuldades na inclusão escolar e na oferta de atendimento especializado.
Atualmente, 13 casos de TEA aguardam vaga na Escola de Educação Especial da APAE, enquanto outros 48 estão na lista de espera para avaliação diagnóstica. A demanda crescente reforça a necessidade de um suporte mais amplo.
Outra instituição que faz atendimento é a AMA (Associação dos Amigos Autistas de Jundiaí), fundada em 2013 por pais de crianças autistas. Seu objetivo é suprir parte dessa necessidade e atende 80 crianças e adolescentes com acompanhamento especializado em fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia, psicomotricidade e psicopedagogia.
Hoje, nosso espaço tem capacidade para atender até 300 assistidos por semana, dentro das especialidades já citadas, para a faixa etária de 0 a 17 anos. "Temos um projeto pronto para estender o atendimento a pessoas com mais de 18 anos, e almejamos, até este ano, a construção de uma nova unidade", conta a presidente.
Na última eleição, candidatos a prefeito em Jundiaí afirmaram que a cidade tem mil crianças aguardando laudo.
Mães relatam dificuldades enfrentadas no dia a dia. Jacqueline Cristina Ferreira Moraes conta que o filho Murilo, de 6 anos, foi diagnosticado com autismo severo aos três anos, após uma longa jornada de consultas e terapias. Para ela, um dos maiores desafios é a falta de suporte adequado na educação: "O apoio em sala de aula está péssimo! As escolas querem os alunos de inclusão em tempo reduzido por falta de cuidadoras".
Outra mãe, que preferiu não se identificar, reforça a dificuldade no acesso ao atendimento. Seu filho recebeu diagnóstico aos três anos graças ao plano de saúde, o que agilizou o processo. Segundo ela, a fila do SUS para avaliação é extensa, e os 30 minutos de terapia oferecidos atualmente são insuficientes.
Outro ponto que ela enfatiza é sobre a educação: "O suporte é o mais falho. Falta capacitação para lidar com crianças autistas."
A falta de acesso a diagnóstico também afetou Talita Berion, que percebeu sinais no comportamento da filha Lavinia Berion entre os três e quatro anos. Em Jundiaí, os médicos diziam que o atraso na fala era normal. Somente ao buscar atendimento em São Paulo conseguiu um laudo definitivo. Hoje, sua filha tem 15 anos, e Talita ressalta que a inclusão ainda é um desafio. "As pessoas pensam que autistas são incapazes. Quanto mais eles crescem, mais evidente fica o preconceito."
O neurologista também destaca a importância da intervenção precoce para o desenvolvimento da criança. “Quanto antes for feito o diagnóstico, melhor. Com o suporte adequado, conseguimos trabalhar habilidades sociais, minimizar dificuldades na comunicação e melhorar a qualidade de vida do paciente e da família.” Segundo ele, a falta de informação ainda é um grande obstáculo. “Muitas vezes, os sinais do autismo são confundidos com timidez ou desinteresse, atrasando o início do tratamento. Precisamos de mais campanhas de conscientização para facilitar esse processo.”
Quanto à idade ideal para o diagnóstico, Willian explica que casos mais evidentes podem ser identificados ainda em bebês, enquanto quadros mais sutis se tornam perceptíveis a partir dos 5 ou 6 anos. "Em adultos, o diagnóstico pode ser mais difícil, pois muitos desenvolvem estratégias para se adaptar ao ambiente."
Em nota, a Prefeitura de Jundiaí informou que está construindo uma base de dados detalhada, com foco em ações estruturadas para o futuro.
Entre as iniciativas, destacam-se o atendimento especializado a alunos com TEA, a formação contínua de educadores, o aumento de estagiários de 176 para 300 e o aumento de 56% na bolsa dos pedagogos estagiários. A cidade conta com 52 Salas de Recursos Multifuncionais para apoio educacional.
Além disso, a Prefeitura criou o Clube de Mães Atípicas, promovendo acolhimento e apoio às mães de crianças com TEA, e garantiu atendimento especializado no parque Mundo da Criança. A administração também está buscando alternativas para superar as limitações financeiras e ampliar os recursos para a educação inclusiva.