07 de janeiro de 2025
OPINIÃO

Retrospectiva sob a ótica da economia


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O ano de 2024 termina como os últimos: com o crescimento surpreendendo positivamente, bem acima das expectativas iniciais. O quanto o Produto Interno Bruto (PIB) avançou de fato só será conhecido no início de 2025, mas as apostas são de que superará os 3% contra a estimativa de pouco mais de 1% do começo do ano. A Fiesp projeta 3,5% de crescimento da economia.

A indústria de transformação foi uma das boas surpresas de 2024. Ao longo do ano, o setor consolidou um processo de recuperação, com a produção sendo puxada, em maior medida, pelos setores produtores de bens de consumo duráveis, como linha branca, e de bens de capital, que são os investimentos em máquinas e equipamentos. A expectativa é que o PIB do setor feche 2024 com avanço próximo de 3,6%.

Dois fatores sustentaram esta recuperação: a expansão da renda das famílias e o crédito. O maior consumo é resultado do mercado de trabalho aquecido, com o desemprego atingindo mínimas históricas (6,2%, segundo a PNAD contínua) e massa salarial em crescimento (aumento de 7,7% comparando-se outubro de 2024 com outubro de 2023).

A renda ampliada, que considera ainda o Bolsa Família e o pagamento de precatórios, entre outros, também avançou. Além disso, a queda das taxas de juros registrada em meados do ano favoreceu o setor, que é muito dependente do crédito.

Alguns dados ilustram esta economia aquecida. Na comparação janeiro a outubro de 2024 com o mesmo período de 2023, por exemplo, a produção de ônibus cresceu 35,3% e a de caminhões 42,8%. A Black Friday brasileira superou todas as projeções e teve o melhor desempenho em quatro anos, com vendas online faturando R$ 4,27 bilhões. O setor de serviços, o maior segmento econômico, segue forte e resiliente.

Os dados econômicos positivos, porém, foram eclipsados por um fim de ano turbulento. Em outubro, a inflação acumulada em doze meses rompeu o teto da meta (4,5%) e atingiu 4,76%. A expectativa é que o IPCA cheio de 2024 também estoure este limite máximo e termine próximo a 4,8%. Os alimentos são o grande vilão e devem fechar o ano com aumento entre 6,5% e 7%, sendo que, em 2023, registraram deflação.

A situação fiscal é outro ponto de fragilidade e a incerteza em relação à trajetória da dívida pública contaminou o preço dos ativos. O dólar mudou de patamar. Começou o ano abaixo de R$ 5 e superou a barreira dos R$ 6. É mais um componente a jogar lenha na inflação, o que corrói a renda das pessoas.

Paralelamente às questões internas, o cenário externo também levou à apreciação do dólar. A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos colocou uma nuvem de incerteza na geopolítica mundial e na condução da economia norte-americana. Se suas promessas de campanha forem cumpridas, os EUA serão mais protecionistas, o que pode levar a mais inflação e a juros internacionais mais elevados. O Federal Reserve (Banco Central norte-americano) já sinalizou que fará quedas de juros mais suaves.

O Brasil fechou o ano com o governo apresentando um pacote fiscal. O mercado considerou as propostas tímidas, avalia que está mais para aperfeiçoamentos de programas existentes do que cortes de verdade. O fato é que o conjunto de medidas não muda o cenário difícil do quadro fiscal previsto para os próximos anos e, em 2025, o país terá de enfrentar o desafio dos gastos públicos crescentes.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP