20 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Comprimento dos braços


| Tempo de leitura: 3 min

Quinta-feira, dia 12 de dezembro, aconteceu o Festival da Casa da Fonte na quadra da EMEB “Ivo de Bona”, gentilmente cedida por sua diretora e futura secretária da Educação, profa. Priscila Costa e Silva.

Foi uma explosão de alegria. Houve música, dança, ginástica rítmica, leitura de redações, judô, capoeira, circo. E uma equipe inteira dando retaguarda nas apresentações. Não citarei o nome dos professores, por não haver espaço suficiente. É uma equipe independente da função que exerce no espaço da Casa da Fonte, plena de dons.

Nos diferentes números, músicas como “Juntos somos mais fortes” do RDN, “Canta, meu povo, canta com muita alegria/ Que essa folia não tem hora pra acabar/ Cheguei, meu povo, pra cantar com alegria/ Nessa folia, cheguei pra comemorar/ Você chegou pra alegrar o dia/ Você chegou pra nos trazer alegria/ Nós somos como tu, somos da mesma família...” do Barbatuques; “Se meus fracassos não ensinassem tanto/ Se minhas lágrimas não põem à prova/ Acho que o segredo de vencer na vida/ Talvez é compreender sua dor de agora/ Ninguém nasceu no topo da montanha/ E a escalada sempre vai ser árdua/ Só aquele que resistir o processo / Vai ter direito a vista mais fantástica/ O melhor peixe é o que você pesca/ A melhor caça é a que você caça/ O alívio vale seu suor da testa/ 
Porque o que vem de graça é mais sem graça..., dos artistas Tribo da Periferia, Duckjay; “... Deus, eu tenho tantas bênçãos/ Posso em minha vida enxergar/ Quanto mais vejo os detalhes/ Sua bondade posso encontrar...” do cantor Seph Schlueter; “Toda pedra do caminho/Você pode retirar/ Numa flor que tem espinho/ Você pode se arranhar/ Se o bem e o bem existem/ Você pode escolher/ É preciso saber viver” dos Titãs.

Em meio às apresentações com leveza, felicidade, aplausos da plateia linda, arte e cultura, o trabalho de um ano inteiro, me veio o menino que não conseguimos que ficasse. O mundo, de certa forma, já o consumira. Remexido por dentro, apesar de seus 10 anos na época. Seu olhar abatido ficou comigo nos últimos nove anos. No meio desse tempo, uma arma de verdade, usada como brinquedo, por ele e seus amigos, reduziu um de seus órgãos, que auxiliava numa percepção maior do mundo com seus becos e crateras.

Transformou-se em luto há pouco tempo. Uma infecção o impediu de prosseguir. Desconheço se ainda possuía sonhos. Que doloroso!

O Mestre Bola Sete de Capoeira na Casa da Fonte me disse que nossos braços possuem limite para abraçar o outro. Uma grande verdade. Não creio que o menino, matriculado aos 10 anos e com presença esporádica em apenas três meses, não desejasse ficar com o propósito de descobrir seus encantos. A pressão do entorno o desequilibrou. Contudo, sinto muito por ele não ter ficado. Em lugar de caminhos encontrou desvios.

Foi linda a apresentação das aulas de circo, com braços alongados, equilíbrio, acrobacias, tendo ao fundo a música.  Pena ele não ter passado por isso. 

Quase Natal. Jesus veio para dar sentido à vida humana, com respeito a todos os seres humanos, com quem Ele se sentava à mesa, curava, salvava... Sem dúvida, Ele tinha misericórdia do menino que não conseguiu aprender a viver e, neste ano, o colocará no presépio vivo do Céu.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)