20 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Síndrome pós-queda em idosos


| Tempo de leitura: 4 min

A síndrome pós-queda é uma condição frequentemente observada em idosos que, após sofrerem uma queda, enfrentam uma série de dificuldades físicas e psicológicas que afetam diretamente sua qualidade de vida e autonomia. Este quadro se torna ainda mais complexo quando o idoso passa por uma recuperação cirúrgica, seja devido a uma fratura, uma lesão mais grave ou até mesmo uma intervenção cirúrgica de grande porte, como as relacionadas à substituição de articulações ou correções ortopédicas. Nessa fase de recuperação, o medo de cair novamente pode ser tão debilitante quanto as próprias consequências da queda, causando uma redução significativa na mobilidade, dor crônica e perda de confiança. 

Após uma queda, o idoso pode desenvolver uma aversão a qualquer tipo de movimento que o coloque em risco de nova queda. Este medo é natural, mas, com o tempo, pode se transformar em um obstáculo para a recuperação plena. A falta de confiança nas próprias capacidades físicas leva a um comportamento de evasão, onde o idoso evita atividades cotidianas que envolvem mobilidade, como caminhar, subir escadas ou até mesmo sair de casa. Este medo excessivo de cair pode gerar um ciclo vicioso: ao evitar movimentos, o idoso acaba enfraquecendo ainda mais sua musculatura, o que aumenta a fragilidade e, consequentemente, o risco de novas quedas. O medo de cair é profundo e, muitas vezes, os idosos passam a se sentir incapazes de realizar tarefas simples, o que impacta diretamente sua autoestima e sua percepção de autonomia.

A dor crônica é outro fator relevante nesse contexto. Muitos idosos que se recuperam de uma cirurgia ortopédica, por exemplo, podem sofrer com dor constante nas articulações ou nos músculos. A dor não só interfere nas atividades diárias, mas também intensifica o medo de realizar movimentos, criando uma sensação de fragilidade. As lesões resultantes de quedas podem causar sequelas permanentes que diminuem a capacidade funcional do idoso, comprometendo ainda mais sua mobilidade e independência. Além das fraturas ósseas, muitas vezes há lesões em tecidos moles, como músculos, ligamentos e tendões, que podem gerar dificuldades para recuperar a amplitude de movimento. As cicatrizes e deformidades físicas decorrentes de quedas podem afetar a percepção corporal do idoso, fazendo com que ele se sinta desconfortável e inseguro com a própria imagem. 

A resistência ao uso de andadores ou bengalas pode não ser apenas uma questão prática, mas também um fator psicológico profundo. O idoso pode sentir vergonha ou desconforto, o que impede que ele utilize os acessórios de forma consistente e segura. Isso agrava ainda mais a sensação de incapacidade, tornando o processo de recuperação ainda mais difícil.

A fisioterapia é uma das ferramentas mais importantes para a recuperação de idosos após uma queda ou cirurgia. Ela não só ajuda na reabilitação das lesões físicas, mas também é essencial para restaurar a confiança e a autoestima do idoso. A fisioterapia pode ajudar a reduzir a dor crônica, melhorar a mobilidade e a força muscular, além de proporcionar estratégias para melhorar o equilíbrio e a coordenação motora, fatores essenciais para prevenir novas quedas. A adaptação do ambiente pode ser feita com a ajuda de profissionais especializados, como terapeutas ocupacionais, que podem sugerir modificações práticas, como a utilização de cadeiras de banho adaptadas ou a instalação de rampas para cadeirantes. A mudança de hábitos no ambiente também pode ser uma forma eficaz de promover a confiança do idoso, tornando-o mais seguro e confortável em sua casa.

Para combater o ciclo da síndrome pós-queda, é crucial envolver a família no processo de recuperação. A síndrome pós-queda é um desafio complexo para os idosos, envolvendo aspectos físicos, psicológicos e sociais. O medo de cair após uma cirurgia ou lesão pode resultar em um ciclo vicioso de inatividade, dor crônica e diminuição da confiança, o que afeta diretamente a mobilidade e a qualidade de vida. No entanto, com o apoio de tratamentos adequados, como a fisioterapia, e a adaptação do ambiente, é possível restaurar a independência e reduzir o risco de novas quedas. O envolvimento da família e a mudança de hábitos são essenciais para ajudar o idoso a superar seus medos, melhorar sua autoconfiança e, assim, garantir uma vida mais ativa e saudável.

Temos também outras complicações no pós cirúrgico, afinal, um fato como esta dimensão altera a questão da rotina, inclusive alimentar do idoso, fazendo com que possivelmente ele não se alimente adequadamente, uso de analgésicos, podem causar constipação, levando a mais um mal estar, como se não bastasse os traumas do pós queda. Por isso a questão intestinal é fundamental ser uma das primeiras pautas na conversa no consultório.

Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, Criador da Cuidare e Apresentador do IssoPodAjudar PodCast do Jornal de Jundiaí (atendimento@edvaldodetoledo.com.br)