O histórico acordo de livre comércio entre o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia (UE) é um marco que coroa 25 anos de esforços dos melhores quadros da diplomacia e do setor privado brasileiro. Para a indústria, a conclusão do acordo é mais do que oportuna, pois assegura aos integrantes do Mercosul uma ferramenta potente para lidar com as mudanças comerciais e geopolíticas ora em curso no mundo.
Desde o início, a Fiesp participou ativamente das negociações, a fim de garantir o atendimento das demandas e a observação das sensibilidades do setor industrial brasileiro. As condições de acesso preferencial de produtos e serviços entre os países signatários foram exaustivamente negociadas para uma transição equilibrada até o livre-comércio, previsto para ocorrer em até 15 anos do início da vigência do acordo.
Ao longo desse período, a Fiesp seguirá atuante para que o país possa aproveitar esses anos de reduções tarifárias e viabilizar as ações necessárias para elevar a competitividade dos setores produtivos nacionais, como a redução do Custo Brasil, entre outros pontos.
É importante ressaltar que, no contexto atual, em que os países parecem estar optando por protecionismo e se fechando, Mercosul e UE dão exemplo ao mundo ao criar a um dos maiores blocos comerciais do planeta, com um mercado consumidor de 700 milhões de pessoas e um PIB nominal de mais de US$ 20 trilhões.
Como potenciais benefícios, o acordo traz a diversificação das exportações e a ampliação de parceiros comerciais. Deve também impulsionar a produtividade e aumentar a integração internacional da indústria brasileira, trazendo ganhos econômicos e sociais de longo prazo.
O Brasil se destaca no comércio entre Mercosul e UE. O país representou mais de 80% do fluxo de US$ 112 bilhões entre os blocos registrado em 2023. A importância das trocas comerciais é resultado de um estoque de capital superior a US$ 320 bilhões investidos aqui por companhias oriundas da União Europeia. Portanto, pode-se concluir que, além de alavancar o comércio, o acordo deverá fomentar o investimento produtivo no país.
O acordo deverá ainda ser um passo relevante na reversão do processo de re-primarização das exportações brasileiras. Com a abertura do mercado da UE, cerca de 97% das exportações industriais brasileiras ao bloco europeu terão tarifa zero tão logo ele entre em vigor. A indústria nacional poderá exportar bens de maior valor agregado para um mercado com um PIB per capita de US$ 40,8 mil. Isso favorece a inserção brasileira em cadeias globais de valor e promove a diversificação da pauta exportadora.
Estima-se também impacto positivo na geração de empregos. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2023, a cada R$ 1 bilhão exportado para a União Europeia, foram criados 21,7 mil empregos – contra 14,4 mil empregos por bilhão de reais exportados para a China, por exemplo.
Ainda há um longo percurso a ser percorrido, como traduções para 23 línguas, assinatura e aprovação pelos parlamentos e Conselho Europeu. Mas devemos celebrar o fechamento da maior parceria comercial do mundo e o início de uma relação que deverá trazer dividendos para ambos os blocos econômicos.
Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)