22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Jundiaí perde seu pediatra


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Domingo passado fomos surpreendidos com a notícia da morte do Dr. José Carlos Pereira Jr. Uma comoção que não poderia sequer ser compartilhada pelo curto tempo que teve o velório no centro.

Dr. Pereirinha, como carinhosamente era conhecido, foi um dos médicos jundiaienses que mais atendeu pacientes infantis. Em seus 56 anos de atuação passaram milhares de crianças que hoje podem estar até com 50 anos. Atendeu à filhos e netos.

Deixa essa lacuna, da mesma forma que encontrou quando começou. Dizia não haver pediatras. Não havia nos hospitais, nem nos municipais e nem nos privados.

Formado na Universidade Federal do Paraná em 1967, ele fez três anos de residência no Hospital Menino Jesus e depois veio para Jundiaí exercer o ofício. Atendeu em hospitais e rapidamente se tornou o médico das crianças: amável e inesquecível por elas, tratava-as com um carinho e competência incríveis. Estendia aos pais que, muitas vezes desesperados, recebiam dele as palavras de conforto e segurança para poderem cuidar do doente, e sarar.

Essa não era sua maior qualidade, talvez fosse, mas sabemos que o que melhor sabia fazer era o diagnóstico precoce de doenças, já habituado, começava a tratar imediatamente na consulta tão logo observasse o paciente. Isso era patente e se orgulhava dessa competência, como a meningite que conseguia detectar e identificar muito rapidamente. Imediatamente internava e medicava antes mesmo do resultado dos exames que só confirmariam o que já estava sendo feito.

Fui testemunha disso! Meu filho, com 13 anos, de volta de uma excursão na Caverna do Diabo, sofria com uma dor de cabeça inexplicável e contínua. Foi socorrido por ele; discretamente o levou para o hospital e imediatamente iniciou os procedimentos para a cura. Não esperou o resultado da punção que mais tarde se confirmou. Não houve sequelas e até a idade adulta só queria ser atendido por ele.

Assim como com meu filho, foram milhares de atendimentos que fez nos 56 anos de exercício da profissão. Nunca se negou a atender em sua casa à noite, de madrugada. Mães muitas vezes desesperadas com filhos febris levavam até sua casa para consulta, medicação, e consequente melhora.

Com ele, sua esposa Dra. Marina Celia Machado Pereira, também pediatra, fazia o mesmo até dois anos atrás.

Foi professor da escola de medicina de Jundiaí por 20 anos.

Ultimamente se interessava em levantar os documentos italianos de nossos avós, especialmente a certidão de casamento, que conseguiu, fazem parte das primeiras famílias de imigrantes do Vêneto para Jundiaí em 1888, quando Angelo Nacimbene, bisavô, pediu lote no  Núcleo Colonial Barão de Jundiai. Foram atendidos e se estabeleceram lá nos primeiros lotes coloniais da atual Avenida Comendador Antonio Borin. A filha italiana, Ana se casa com Antônio Carlos Pereira, funcionário da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, telegrafista ; conta-se que era de Brotas e foi chamado para os escritórios da Paulista porque tinha uma letra muito boa e seria ótimo para redigir atas e documentos e assim foi, não haviam máquinas de escrever ainda. Todos os filhos trabalharam lá. José Carlos Pereira o pai não foi diferente.

Ainda em seu último podcast, Dr. Pereirinha pedia, em nome de sua mãe, que mantivessem o nome do Dr. Domingos Anastácio no Hospital.

Deixa sua esposa Dra. Marina, seus filhos Ana Maria, Mariana, Thales, Thiago e Maria Clara, sete netos e uma história pessoal épica na atuação do médico em Jundiaí. Sempre avesso a homenagens, não queria nem sua missa de sétimo dia.
 
Eduardo Carlos Pereira, seu primo, é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)