01 de dezembro de 2024
OPINIÃO

A África que existe no Brasil


| Tempo de leitura: 3 min

20 de novembro de 2024 foi um dia histórico para todos os que lutam por um país mais justo, sem racismo e com as mesmas oportunidades para todos, independente da cor da pele. 

Pela primeira vez na história, o Dia da Consciência Negra foi um feriado nacional. Até 2023, a data era adotada como feriado por apenas 6 Estados e 1.200 Municípios. 

Esses números representavam cerca de 20% do nosso território. Na prática, significa que, arredondando, 8 em cada 10 cidades ignoravam o Dia da Consciência Negra e todo o seu significado.

Tornar esse feriado nacional pode parecer uma iniciativa menor, algo simbólico. Mas não é. O Dia da Consciência Negra é a celebração da negritude. O reconhecimento de uma herança cultural plural e diversa que forjou a nossa identidade nacional e está presente no nosso dia a dia. 

Esta também é uma data de reflexão, para encontrarmos os caminhos que nos levarão à desconstrução do racismo estrutural e das desigualdades que ainda persistem em nossa sociedade. Para avançarmos como País, ninguém pode ficar para trás. 

Ao longo desta jornada em busca de igualdade racial, acumulamos algumas conquistas. São demandas históricas apresentadas pelo movimento negro e viabilizadas por governos progressistas, como os do presidente Lula e da presidenta Dilma. Nós devemos nos orgulhar de cada uma destas vitórias. Mas ainda há muito a fazer. E nós vamos seguir em frente. 

Como presidente da Comissão de Relações Internacionais da Assembleia Legislativa, eu acompanho de perto o fluxo migratório que vem consolidando São Paulo como destino de imigrantes e refugiados vindos de várias partes do mundo, como o Haiti e países do continente africano. 

É preciso monitorar e aprimorar as políticas públicas de acolhimento e inserção destas populações para que elas não fiquem vulneráveis no nosso território. 

Recentemente, tivemos um caso lamentável no Aeroporto Internacional de Guarulhos, que resultou na morte de um imigrante de Gana que buscava refúgio no Brasil. Casos como este não podem se repetir. 

Eu também chamo a atenção para o papel da África hoje para o mundo e, em especial, para o Brasil. O continente africano está em pleno desenvolvimento. Hoje, a África é tech. 

Nairóbi, no Quênia, é conhecida como a Savana do Silício, em referência ao Vale do Silício, onde estão instaladas as big techs nos Estados Unidos. Sua versão africana tem se consolidado como um centro global de inovação para o desenvolvimento de tecnologias acessíveis para o mundo todo. 

No ranking mundial, o Quênia está entre os quarenta países com mais investimentos em fintechs, à frente de nações como México e Portugal, por exemplo. 

Lá, eles possuem um sistema semelhante ao nosso pix, o M-Pesa. E se você acha que fomos nós que inspiramos eles, está enganado. O M-Pesa está em operação há muito mais tempo. Há 17 anos, para ser mais exato. E além do Quênia, também pode ser usado no Egito, Etiópia, Congo, Nigéria, Moçambique e Lesoto.  
 
Esses são apenas alguns de muitos exemplos sobre o que está acontecendo hoje na África e que podem servir de modelo para outros países, inclusive para o Brasil. 

Nos primeiros governos do presidente Lula, nós estreitamos os nossos laços com a África. Agora, precisamos aprofundar essa relação e promover um intercâmbio que favoreça o desenvolvimento mútuo. 

Reconhecer e resgatar a África que existe dentro do Brasil é fundamental. Esse processo passa pela reparação histórica, pelo combate ao racismo estrutural e as suas desigualdades, pela atenção aos imigrantes e refugiados, pelo intercâmbio de iniciativas bem-sucedidas e pela celebração da negritude. E que o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra consolide todas essas lutas.

Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual em São Paulo.