27 de novembro de 2024
OPINIÃO

Poder e autoridade: uma reflexão


| Tempo de leitura: 3 min

O que transforma mais a vida de uma pessoa? O que realmente transforma a minha vida?
Poder ou autoridade?

Quando criança, adorava mitologia grega. Foi com uns nove, dez anos, que conheci a história do filho do rei de Troia, Páris Alexandre. Certo dia, numa festa de casamento, Éris, a deusa da Discórdia e única divindade que não havia sido convidada para o evento, compareceu à festa com uma maçã de ouro com a inscrição "à mais bela", para que fosse dada por Zeus à sua favorita. Hera, Atena e Afrodite disputaram a posse do pomo. E Zeus, para não entrar em conflito com elas, recusou-se a ser o juiz e escolheu  o jovem e honesto Páris Alexandre para tal. Cada uma das deidades esperava ser a escolhida, e para tanto fizeram suas promessas: Hera, rainha dos deuses, prometeu a Páris que se fosse escolhida, faria dele o rei mais poderoso do mundo. Já Atena, deusa da sabedoria e da batalha, prometeu que se ganhasse, daria ao príncipe troiano autoridade e sabedoria para sempre obter vitória nas batalhas e na vida. E  Afrodite, deusa da beleza e da sensualidade, prometeu que ele teria o amor e se casaria com a mulher mais bela do mundo, Helena. Páris acabou escolhendo Afrodite... e isso não foi só a sua ruína, mas também de toda Troia (para saber mais, basta ler a Ilíada de Homero).Minha mente infantil nunca entendeu como que Páris deixou passar a oportunidade de obter sabedoria  eterna por causa de uma mulher que, mesmo sendo linda, já era casada. Não fazia sentido!

A maçã deveria ser dada à deusa Atena! Claro! Quem não quer ser uma autoridade? Ter toda a sabedoria? A Beleza acaba. O poder corrompe.

Mas o tempo passou, e por fim eu compreendi que justamente disso se trata a história de Páris: nós, humanos, mortais, não somos plenamente racionais. Podemos ser enganados por coisas passageiras como o poder ou a beleza. A sabedoria, a autoridade acabam sendo suplantadas.

Essa história sempre me chamou a atenção. Sempre lembro dela. E de como tentei, ao longo da vida, alcançar plenamente a sabedoria, pois com ela vem a autoridade e a vitória. Mas claro que na vida não é assim que funciona. Como mortal, sou (e somos todos, né) como Páris, estou mais próximo de trocar tudo isso por sentimentos efêmeros.

Mas sempre busquei  e respeitei a autoridade. A sabedoria, a reflexão. Pode não parecer para quem me conhece, mas reflito muito sobre o que ouço. Digo isso porque a hiperatividade me acompanha, e quem me vê acha que sou agitado demais. Mas não. A hiperatividade pode soar como algo desobediente ou displicente pelo meu jeito, e ao invés de algumas pessoas se aproximarem com sabedoria e autoridade que tanto bem fazem, acabam querendo se impor através do puro e simples poder. E isso não é bom. Afinal, a principal diferença entre poder e autoridade é que o poder é a capacidade de forçar alguém a fazer a vontade, enquanto a autoridade é a capacidade de influenciar alguém a fazer o que se quer de boa vontade.

Repito: poder é forçar. Autoridade é influenciar.

Mesmo o tempo passando é difícil, para mim, encontrar e encarar gente em posição de destaque abusando do poder e desprezando a autoridade. Muito triste.

Mas mesmo assim, ainda, hoje eu daria a maçã de ouro para a deusa Atena.

Samuel Vidilli é cientista social (svidilli@gmail.com)