As cidades concentram mais da metade da população mundial e são responsáveis por cerca de 70% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Ao mesmo tempo, são particularmente vulneráveis às consequências das mudanças climáticas, dado o adensamento populacional e a complexidade de suas infraestruturas. Sem estratégias claras de mitigação, esses centros urbanos correm o risco de se tornarem insustentáveis, aumentando os custos econômicos, sociais e ambientais.
Parece utópico falar de mitigação climática quando temos tantos outros temas que não resolvemos, como a saúde, a educação inclusiva, infraestrutura, competitividade. Mas, se as nossas casas desabarem por conta das trágicas tempestades ou não termos água para beber, por conta da seca, não adianta relutamos em tomar atitude agora. A ONU prevê mais de 70 milhões de desabrigados climáticos em todo o hemisfério sul do planeta nas próximas décadas.
Jundiaí está atrasada nestas discussões, embora tenhamos sediado um evento na semana passada sobre resfriamento da cidade. É verdade que conseguimos despoluir nosso rio há décadas e que o investimento em água e saneamento básico do século passado são bem-vindos na atualidade. Entretanto, pouco se faz para que haja um estudo e prática sobre o uso racional da água, com menos desperdício nas tubulações, ou que novos reservatórios sejam inaugurados.
Para além disso, vimos que mais árvores foram cortadas do que plantadas neste ano na cidade. Os pequenos espaços verdes ainda existentes cedem áreas para os inúmeros empreendimentos imobiliários. Não construímos jardins urbanos, áreas de chuva e não discutimos o que não iremos impermeabilizar.
Do alto dos morros, a tragédia anunciada. Também não avançamos numa política efetiva de transferência de moradores em situação de vulnerabilidade e perigo climático. Sem falar em ciclovias que não são construidas, numa política de mobilidade urbana de fato, que retire o estrondoso número de veículos particulares das ruas (Jundiaí tem mais de um veículo por pessoa). Vamos combinar, ninguém quer pegar ônibus em terminais urbanos em que o trajeto é demoradíssimo. Escuto essa reclamação há mais de 20 anos dos jundiaienses e não avançamos em transporte coletivo digno.
Moradora da Região da Ponte São João, enfrento a lástima diária para acessar os bolsões dos viadutos para conseguir ir para São Paulo, por exemplo. Desde o viaduto sob a av. dos Ferroviários, nenhuma obra contemplou nossa região. O trânsito não anda. E, para quem anda a pé ou é trilheiro como eu, as calçadas também não têm caminhabilidade, vamos combinar. Tudo isso diminui nossa pegada de carbono.
A exigência de planos de mitigação climática nas cidades não é apenas uma responsabilidade dos governos locais; é uma necessidade global. O futuro das cidades depende da capacidade de agir proativamente, integrando sustentabilidade e inovação. A partir desses esforços, será possível construir espaços urbanos mais resilientes, inclusivos e preparados para enfrentar os desafios de um planeta em transformação.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ