01 de dezembro de 2024
OPINIÃO

O abismo do envelhecer dos brasileiros


| Tempo de leitura: 4 min

O processo de envelhecimento da população brasileira tem ganhado crescente atenção nos últimos anos. O que o país vem experimentando é único, pois nunca vivemos tanto. E trago uma reflexão fora da bolha hoje, será que somos tão iguais no processo de envelhecimento? Não me refiro a questões apenas de saúde ou genética, mas de acesso à saúde, promoção da saúde, recursos socioeconômicos, locais adaptados, acesso a insumos básicos. A população negra representa 56% da nossa população, é maioria, mas esta maioria não tem acesso muitas vezes ao básico.

A desigualdade social no Brasil afeta de maneira mais severa a população negra, que historicamente ocupa as camadas mais baixas da pirâmide social. Isso se reflete de forma especialmente dramática no envelhecimento da população negra. A escassez de acesso à educação de qualidade, emprego formal, segurança financeira e serviços de saúde adequados limitam as oportunidades para que os idosos negros possam envelhecer com dignidade.

O racismo estrutural e a exclusão social impactam diretamente a condição econômica dos negros no Brasil. Dados do IBGE mostram que a população negra tem, em média, rendimentos significativamente mais baixos do que a população branca. Em 2022, a renda média de um negro era 42% menor do que a de um branco. Isso se reflete também na aposentadoria: muitos negros acabam não conseguindo atingir a contribuição mínima para a aposentadoria formal, dependendo de trabalhos informais ou sub-remunerados, o que resulta em uma aposentadoria precária ou mesmo na falta de um benefício de aposentadoria.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 48% dos negros brasileiros vivem em situação de vulnerabilidade social, com dificuldades em acessar bens e serviços essenciais, como educação, saúde e moradia de qualidade. Esses fatores impactam diretamente na qualidade de vida do idoso negro, contribuindo para um envelhecimento mais vulnerável e precário.

No Brasil, o histórico de exclusão educacional dos negros é um dos pilares das desigualdades sociais. A taxa de analfabetismo entre negros é mais alta do que entre brancos e a escolaridade média também é inferior. Entre os idosos negros, essa disparidade é ainda mais pronunciada. Muitos idosos negros possuem escolaridade incompleta ou não frequentaram a escola durante a juventude devido a fatores econômicos, raciais e sociais. Esse cenário de baixa escolaridade tem consequências significativas na fase de envelhecimento. A falta de uma formação sólida dificulta a inserção no mercado de trabalho em idade avançada e limita as oportunidades de acesso a informações sobre saúde, direitos e outros serviços importantes para a população idosa.

Estudos apontam que os negros têm uma expectativa de vida menor do que os brancos e enfrentam maiores taxas de mortalidade precoce. As doenças afetam de forma diferente a sociedade, devido ao acesso ao tratamento e também ao nível de escolaridade, como a população negra é mais atingida por complicações de problemas cardiovasculares, renais, diabetes e doenças infectocontagiosas. Na pandemia, a taxa de óbito por complicações da covid foi alarmante, 55% dos óbitos em decorrência de covid eram negros.
 
O que quero deixar registrado também é que devemos a equidade social a população negra de nosso país, ao longo de nossa história, quase 13 milhões de seres humanos foram escravizados em nosso território, após a abolição da escravatura, em maio de 1888, os negros foram retirados de seus alojamentos e sublocados em periferias, sem diretos a empregos e como sustentar suas famílias. Algumas políticas públicas implantadas, como a lei de cotas raciais, não são privilégios, e sim estudos que apontam que o acesso mais democrático à população trará um avanço social.

Após esta leitura, espero que você fique mais reflexivo sobre o envelhecimento da população negra no Brasil,  marcado por uma série de desafios relacionados à desigualdade racial, social e econômica. A falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, a baixa escolaridade, as dificuldades no mercado de trabalho e a escassez de políticas públicas inclusivas são fatores que contribuem para um envelhecimento mais vulnerável e precário. Para garantir um envelhecimento digno para a população negra, é fundamental que o Brasil implemente políticas públicas que abordem essas desigualdades e que garantam melhores condições de vida para os idosos negros, com um olhar sensível às questões raciais e socioeconômicas.

E deixo a reflexão: Qual Brasil você quer para nós brasileiros ?

Edvaldo de Toledo é empresário, enfermeiro, especialista em Gerontologia e Geriatria, Criador da Cuidare e Apresentador do IssoPodAjudar PodCast do Jornal de Jundiaí.
(atendimento@edvaldodetoledo.com.br)