A semana de uma jornalista é voltada a inúmeros assuntos que poderiam virar pauta, que são pauta, que vão para o podcast ou que sobem em redes sociais. Comecei esta última semana gravando com o Dr. Alexandre Martin um podcast sobre ansiedade. Em minhas pesquisas, descobri que 26% dos brasileiros estão medicados para este transtorno e que 44% dos brasileiros já procuraram ajuda médica ou psicológica para detectar seus sintomas.
No momento em que estou escrevendo este artigo o tema da vez é a redução da jornada de trabalho de 6 x 1 e seus decorrentes desdobramentos políticos. Emendando um tema no outro, Dr. Alexandre trouxe uma visão que até então não tinha pensado. Ele disse que atualmente trabalhamos mais do que na Idade Média e é verdade, conheço muitas amigas executivas e diretores de empresas cujas jornadas diárias ultrapassam 14 horas, mais o apoio aos filhos e o cuidado com a casa. Ou seja, ninguém mais dorme na modernidade.
Nosso estilo de vida quer se comparar com a velocidade da IA, acompanhar os memes das redes sociais e ficar informado com as notícias, muitas vezes fakes, que nos chegam por redes duvidosas. Além disso, no caso das mulheres, ainda temos que estar com o corpo em dia, cabelo pintado, unha feita. Muita gente, mas muita gente mesmo, tem acordado às 5h para fazer comida fit, malhar, enfiar o filho na escola, trabalhar até 19h ou 20h e começar tudo de novo, delegando aos celulares e professores essa divina tarefa que é educar.
Respire fundo. É isso mesmo que a gente quer da vida? Ou este é um modelo imposto pelo capitalismo voraz? E você pode me perguntar: “mas onde é que vou trabalhar sem essa jornada extensiva ou folga de uma vez por semana.” Eu respondo, use a criatividade, empreenda ou busque uma empresa mais amigável, nem que seja para ganhar menos. Ganhar menos dinheiro, mas mais tempo, saúde e conversa olho no olho com os filhos, uma vida que dê para inserir passeios no parque ou atividades de lazer.
Por isso, linkei o primeiro parágrafo ao tema. Enquanto estamos assoberbados de trabalho, nossa pressão arterial aumenta, nosso corpo dói, o quadril não aguenta tantas horas sentados. A saúde mental dos trabalhadores nunca esteve tão ruim, a ponto de o governo exigir um programa de saúde mental para empresas aplicarem. E essa conta também é ruim para o empregador, estamos falando de mais de 51% de turnover precoce nas empresas brasileiras, recorde mundial, além dos afastamentos por doenças psiquiátricas.
Estamos adoecendo e corroborando por más escolhas no nosso dia a dia, pressionados por um sistema digital ditado por máquinas. Mas não somos máquinas. Esse perfeito mecanismo que é o nosso corpo foi feito para descansar no mínimo de 8 a 10 horas por dia, fazer três refeições diárias e ter tempo para a vida em comunidade.
Podem me chamar de saudosista, mas quando eu era criança nenhum supermercado funcionava aos domingos em Jundiaí. Não havia shoppings, nem comércios abertos em pleno dia santo. Está nas escrituras sagradas, o sétimo dia foi feito para o descanso. Aos domingos, a gente visitava a casa dos avós e brincava. Era tempo dos adultos colocarem o papo em dia, dormir após o almoço e das mulheres tricotarem (ou crochetarem) seus assuntos prediletos. Tenho uma grande família unida até hoje graças a este tempo de convivência. Mas o que mesmo vamos levar para a nossa terceira idade nos alimentando de fast food e relacionamentos virtuais? A vida foi feita pra se viver plenamente, com atenção no aqui e agora. Desculpem-me, mas meu mestre Domenico de Mais já dizia que sem o ócio é impossível viver.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP e editora-chefe do Grupo JJ