27 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Jogo das possibilidades


| Tempo de leitura: 3 min

“Jogo das possibilidades” é uma peça de teatro escrita pela dramaturga e atriz Tábata Makowski. E que peça! Seu subtítulo, “Dramaturgia para uma turma de adolescentes” explicita a quem o trabalho é primeira – mas não exclusivamente - dirigido. E que trabalho! Assisti à leitura dramática da peça no último dia 3, na Sala Glória Rocha, no Centro das Artes, em Jundiaí. “Jogo das possibilidades” nasceu de uma encomenda, em 2019, de grupo teatral a respeito de bullying. Vieram as primeiras conversas com turmas de adolescentes. Chegou a pandemia, o projeto original gorou, mas a ideia continuou martelando na cabeça da teatróloga – ela também uma professora de teatro, de convívio frequente com jovens. Tábata reiniciou o trabalho, agora dentro de um programa de fomento à cultura propiciado pelo governo do Estado de São Paulo. Conversou com grupos de jovens em escolas da região. Alunos de Campo Limpo Paulista, Itupeva, Jarinu, Jundiaí e Louveira foram ouvidos em rodas de conversas e leituras dramáticas. Ao mesmo tempo em que aproximava estudantes do universo teatral, a experiência serviu para que o leque temático se ampliasse. A véspera do primeiro dia de aula, a relação com os pais, o convívio na escola foram, por exemplo, assuntos recorrentes e entraram em cena. 

O enredo centra-se na história de Mia, uma garota de 13 anos que, no seu quarto e na véspera do primeiro dia do novo ano escolar, pensa a respeito do que passou no ano anterior e projeta o que a espera no dia seguinte e nas próximas semanas e meses. São oito atores e nove personagens em cena. Uma das grandes sacadas da peça é que todos os atores devem se revezar no papel da protagonista Mia. Esse revezamento confere agilidade às cenas e proporciona aos atuantes a possibilidade de caracterizar a seu modo a personagem. Cada um do elenco é, em algum momento, protagonista do espetáculo. No início da cena, o atuante se apresenta: “Eu sou a Mia” e desenrola sua fala. E aqui destaca-se outro ponto alto do trabalho: os diálogos enxutos e precisos, tão bem torneados pela autora. Estão lá gírias e expressões próprias da época e da idade a serviço de mostrar o que pensam, o que sentem e como agem jovens contemporâneos. Mia, sua amiga Nina, seu colega Felipe, o pai de Mia, sua avó, a amiga de sua avó, uma de suas professoras sobem ao palco para exibir sentimentos, expectativas e pensamentos nessa fase tão rica e frequentemente complexa da vida humana. Com inteligência e sensibilidade, Tábata escapa de clichês comuns quando adultos se propõem a falar de adolescentes e cria um espetáculo de forte apelo interativo, por vezes bem humorado, e muito emocionante.  

Nascida em Jundiaí, Tábata Makowski é formada em Letras pela USP; em Cinema, pela FAAP, e tem especialização em Artes Cênicas pela Escola Superior de Artes Célia Helena. Escreveu as peças “É tudo família!”, premiada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte; e “Dia”, que faturou o primeiro lugar do Prêmio Heleny Guariba. Tábata é uma das gestoras da Atuará, escola de teatro. “Jogo das possibilidades” saiu pela editora Patuá.        
        
Fernando Bandini é professor de Literatura (fpbandini@terra.com.br)