22 de dezembro de 2024
OPINIÃO

Energia masculina e o controle dos riscos


| Tempo de leitura: 3 min

A campanha de prevenção ao Câncer de Próstata, o chamado “Novembro Azul” vem me dando cada vez mais satisfação e orgulho. Tal como sua campanha “gêmea”, o “outubro rosa”, o trabalho de conscientização expande seus limites e acaba por entregar bem mais do que se propôs no início.

Graças a essa divulgação, que trata primariamente de uma doença exclusiva masculina, passamos também a questionar sobre o papel do homem na sociedade contemporânea, uma vez que ainda estamos (ainda) sob o julgo de uma sociedade patriarcal, mas liberando-nos de ingrata herança (graças!).

Perdemos muito, todos nós, nestes anos de opressão, não somente no poder feminino atentado e violentado por séculos, quanto no próprio masculino, que se tornou desconexo, incapaz de exercer suas verdadeiras funções.

Enquanto colunista e escritor, descrevo um cenário disfuncional para nossa sociedade que dá mostras que pode ser revertido e reforço a importância para a reintegração de suas duas grandes forças motrizes: um masculino forte e um feminino acolhedor. Contudo, meu dever de médico clama por igual atenção: o “casamento” entre masculino e feminino deve primeiro ocorrer dentro de cada um de nós, irradiando-se posteriormente para o “externo” do nosso convívio social.

Como seres íntegros, todos temos ambas as potencialidades em constante mistura e alquimia dentro de nós. Um potencial masculino desajustado pode se manifestar de várias maneiras, com excessos e com deficiências da sua ação, ambas deletérias para o indivíduo, tanto na sua saúde quanto na manifestação social.

A forma que lidamos com a dor, por exemplo, pode ser ligada, em uma boa parte, com o nosso relacionamento com a energia “masculina” que normalmente herdamos do nosso pai. O relacionamento que possuímos com ele influencia diretamente neste comportamento, por mais incrível que possa parecer.

Como acupunturista, tenho que cuidar de vários tipos de dor, de várias naturezas e origens. Cada qual tem a sua característica e o impacto que ela causa na “moral” do paciente, ou na energia mental dele, é parte indispensável do tratamento e devo sempre me atentar a ela.

Diante do desconforto que a dor ocasiona, algumas pessoas se sentem inseguras e não conseguem identificar o quanto dessa dor é aceitável e parte do processo de cura e tratamento das suas doenças. Por vezes, a inabilidade de “encarar” o processo em que foram impulsionados as leva a se apegarem em um mundo ideal onde a dor é simplesmente suprimida. Infelizmente isso não existe e acaba levando à medicalização excessiva, vícios e danos colaterais.

Avaliar riscos e gerenciar aspectos negativos e desconfortáveis faz parte da energia expansiva de natureza masculina e ela permite avaliar o ponto onde podemos ser resilientes e quando chega a hora de buscar ajuda. Sem essa energia bem firmada, não temos certeza se o que fazemos é aceitável porque, no fundo, estamos desconectados com a nossa própria potencialidade de mudar as situações em que nos colocamos.

Cuidar-se e fazer exames é uma maneira sensata de cuidar com os riscos da idade e uma atitude adulta, de quem tem a energia masculina saudável e desenvolvida, para enfrentar e vencer na vida. Que venham muitos mais “novembros”, então!

Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)