O mês de outubro fechou com o dólar valendo R$ 5,87; uma desvalorização cambial de 6,20% do mês de janeiro a outubro. A desvalorização do real frente ao dólar foi de 21%.
É importante observar os efeitos dessa desvalorização na economia brasileira, vejamos. Em primeiro, todas as nossas importações denominadas em dólares, sem que tenha ocorrido aumento de preços no exterior, aqui dentro, ficaram 21% mais caras em reais. No caso de insumos industriais, os custos de produção subiram conforme o peso deles nos produtos e pressionam a inflação interna.
Empresas instaladas no Brasil, seja de capital nacional ou estrangeiro, com dívidas com o exterior, ficaram com um aumento em suas dívidas de 21%, em reais, que são contabilizadas como “despesas não operacionais” e, como consequência, esses aumentos de dívidas reduzem o lucro dessas empresas, que pagam menos imposto de renda sobre seus lucros, à “Receita Federal”.
Relativamente aos investimentos externos na economia brasileira, destinados aos mercados financeiros e na Bolsa de Valores, mesmo com juros básicos de 10,75 % ao ano, com juros básicos, por exemplo, de 5,50% nos Estados Unidos, não estimulam investimentos financeiros em nosso país, isso porque os dólares, quando internados no Brasil, viram reais e, na saída, retornam ao dólar. Nesse caso, dos ganhos financeiros, precisamos descontar os 21% e, portanto, sairiam com perdas financeiras, ao que chamamos de efeito – renda negativo.
O mesmo acontece com as aplicações na Bolsa de Valores que, além do risco da alta ou da baixa das ações, ao final, para saírem de volta aos seus países, remeterão 21% menos dólares. O efeito é que há uma oferta cada vez menor de dólares no país, que dada a uma demanda interna de divisas, contribuem, como consequência, para a subida do dólar.
Quanto aos Investimentos Diretos dos Estrangeiros, chamados como formação bruta de capital fixo, pode ocorrer que haja uma vantagem quando da internação do aporte financeiro para a instalação de uma filial de uma multinacional, pois os dólares seriam convertidos em reais, portanto com mais 21%. Porém, mais tarde, ao longo dos anos, se o real continuar desvalorizado, remeterão às suas matrizes, sob a forma de remessa de lucros menos dólares.
Um câmbio desvalorizado representa também um entrave para a queda dos juros básicos da economia – a Selic, o que prejudicaria a atividade econômica, retraindo os investimentos financiados.
É por isso que o saudoso ministro e professor, Mário Henrique Simonsen, proferiu a famosa frase: “os juros fora do lugar aleija a economia de um país: o câmbio mata”.
Messias Mercadante de Castro é professor de economia do Unianchieta, membro do Conselho de Administração da DAE S/A e consultor de empresas (pavesicastro@bol.com.br)