21 de novembro de 2024
OPINIÃO

O mau momento da arbitragem brasileira


| Tempo de leitura: 4 min

3 Situações:

A – Mandaca (JUV) e Gerson (FLA) se esbarram. O flamenguista cai e o árbitro Bráulio da Silva Machado marca pênalti equivocadamente. Na cabine, há VAR, AVAR 1, AVAR 2, Assessor do VAR e Quality Management. Ainda assim conseguiu errar… O Twitter do Juventude publicou que “se isso é pênalti, eu sou uma Brastemp que lava e seca”.

B – Aos 45m do segundo tempo, o árbitro Flávio Rodrigues de Souza marcou um pênalti inexistente para o Vitória, que foi decisivo para o triunfo do time baiano diante do Fluminense. Mano Menezes chamou o lance de “pênalti Mandrake“.

C – Ramon Abatti Abel se superou: marcou dois pênaltis inexistentes ao Palmeiras e deixou de expulsar Lucero do Fortaleza num jogo marcado por muitos erros. 

De positivo na rodada, apenas Reinaldo José Pereira (FIFA/PE) que expulsou Rafa Silva aos 4 segundos de jogo (você não leu errado, o cruzeirense agrediu um jogador do Athletico no apito inicial). Mas repare: 

Bráulio é FIFA. Flávio é FIFA, Abatti é FIFA. Nesta rodada, tivemos 9 árbitros da FIFA escalados em 10 jogos (Marcelo de Lima Henrique, veterano e ex-FIFA, apitou Atlético Mineiro x Internacional). Indisponível apenas Paulo Zanovelli, que havia sido suspenso por 15 dias por conta do erro de direito em Fluminense x São Paulo e, após o Tricolor do Morumbi reclamar que o STJD não havia anulado o seu jogo, conseguiu como compensação mais 15 dias de gancho ao juiz (pedido feito pelo próprio time e atendido de pronto).

Se os novatos não dão conta e os FIFAs (que são a elite da arbitragem brasileira) não resolvem, não é melhor importar árbitros? Veja que nos últimos jogos da Libertadores e da sul-americana, os estrangeiros não têm dado problemas.

Mas um agravante: os clubes não ajudam a já fraca arbitragem. E daí veio a motivação do título desse post com a chamada do pênalti de Gerson: há 3 dias, Bruno Spindel disse: “A arbitragem tem medo de errar contra os outros clubes, e não tem contra o Flamengo“. O mesmo Bruno corrigiu sua fala após o erro a favor do Mengão ontem?

Árbitro, na verdade, tem medo de errar contra time grande, contra camisa pesada e, principalmente, contra clube que tem força política. E erra-se muito no futebol brasileiro, e quem grita quando o erro é contrário, cala-se com o erro a favor.

Outro exemplo notório? Abel Ferreira, sobre os dois pênaltis inexistentes a seu favor, respondeu de maneira tranquila e serena: “Eu marcaria e você não marcaria, é interpretação”. Se fosse ao contrário… Abel, João Martins e Vitor Castanheira estariam falando do sistema, de perseguição, de melhorar o futebol, disso e daquilo, com sangue nos olhos e esbravejando aos quatro cantos. Mas como os erros foram a favor do Verdão… muda-se o tom! Que chance Abel perdeu de ser aplaudido e declarar: “já fomos prejudicados, e hoje fomos ajudados; a arbitragem é ruim sempre e precisamos melhorar”.

Além dessa pressão dos cartolas e medo de ficar fora de escalas, outros fatores explicam essa fraca arbitragem:

•    Os árbitros de hoje não têm personalidade. Em vez de baterem no peito e assumirem suas decisões, jogam a responsabilidade à cabine do VAR, pois sabem que alguém da CA-CBF está lá, além de outros 3 elementos decidindo em um ar-condicionado. Por mais que se tenham telões, a visão do árbitro em campo e o calor da partida não são reproduzidos nesses meios eletrônicos. Mas o árbitro prefere transferir a decisão…

•    A má formação dos juízes: antes se começava a apitar na cadeia (era para ganhar experiência na marra) e na várzea; hoje se inicia em Sub 11. Antes, chegar ao Morumbi, Mineirão ou Maracanã era o momento final, o auge da carreira. Hoje, pula-de da série D com a Série A com uma facilidade enorme, por falta de árbitros, e vai-se aprendendo a dirigir um jogo em estádios míticos. É como querer trocar o pneu do carro com ele rodando…

•    Privilegia-se o corpanzil, a condição atlética e a aparência do que a qualidade técnica. Quantos árbitros da altura e físico de um Emídio Marques Mesquita, Roberto Nunes Morgado ou Paulo César de Oliveira temos? Há de ser “sarado” para estar na telinha… além disso, quantos negros no apito estão na elite no país de Pelé, Garrincha, Didi, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros grandes pretos da bola?

•    Os VARs querem ser protagonistas e participar efusivamente do jogo. É o equivocado “reapitar a partida”, tão combatido pela FIFA, que os árbitros de vídeo insistem em praticar. Lembrando que das nações importantes no futebol, quase todas estiveram no Mundial, mas a FIFA recusou nossos VARs na última Copa do Mundo.

•    Alguém pode dizer que existem mais câmeras e isso é covardia contra o árbitro. Ao contrário, hoje ele pode usar as câmeras a seu favor! E ainda assim, o faz errado… prova da dificuldade técnica.
Enfim: nesse péssimo final de semana na arbitragem, onde a elite entrou em campo e não resolveu, insisto: nos jogos importantes, que se traga árbitros bons de fora, a fim de evitar queixas e outros problemas.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)