Hoje os eleitores jundiaienses escolherão o seu prefeito para uma gestão que começa em 2025 e termina em 2028.
O importante é saber que não são apenas quatro anos da cidade que estarão em jogo. A próxima administração terá de enfrentar problemas sérios, que já preocupam o mundo inteiro e, para variar, o Brasil está bem desatento em relação a eles.
Um bom sinal é que mais de sessenta por cento dos brasileiros já se convenceram de que existe o aquecimento global, causador das emergências climáticas, e que o ser humano é o responsável por isso.
A administração federal titubeia, tateia e tergiversa. Isso faz com que aumente a responsabilidade das entidades subnacionais. Principalmente os municípios, pois ninguém nasce na União ou no Estado. Nasce-se, vive-se e se morre na cidade. Aqui o cenário primordial para o enfrentamento da tragédia.
São Paulo foi o primeiro município brasileiro a criar uma Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas. É vinculada à Secretaria do Governo, ou seja, está bastante próxima ao gabinete do prefeito. Foi ideia dele essa criação, principalmente por levar em conta a precaríssima condição da região dos mananciais, no sul da cidade, alvo de ocupações clandestinas e criminosas. Elas são antecedidas por destruição do verde, últimos resíduos da Mata Atlântica, e assoreamento das derradeiras nascentes.
Todas as cidades precisam pensar nisso. Os tempos já não são de meras “mudanças”. Hoje elas são urgências.
Começar por onde? Pela crise hídrica. Não chove o necessário. Os lençois freáticos se esgotam. Seca e estiagem a caminho desurgimento de áreas desérticas.
Remédio: recuperar nascentes. Fazer campanhas para que a população economize água. Punir quem lava calçada, carro ou deixa as mangueiras abertas, como se fossem “vassouras hidráulicas”. Varrer é ainda o melhor método. Água só em balde e em pequena quantidade.
Plantar árvores. Não é aquele plantio de praxe, mas é levar a arborização da cidade a sério. Todas as ruas precisam de muitas árvores. Árvores grandes. Adultas. Capazes de sequestrar carbono, o grande vilão.
Ampliar viveiros, incentivar a produção de mudas. Procurar espécies nativas. Aproveitar todos os espaços livres para fazer “jardins de chuva”. As cidades não podem ser concebidas para servir prioritariamente ao automóvel e não às pessoas. Quem tem coragem deveria desestimular o uso do automóvel, incentivar a caminhada, o uso de bicicletas.
Premiar as casas que zelassem pelas árvores que estão nas ruas. Também as que tivessem jardins, pomares, hortas. Onde foram parar os quintais?
O Plano Diretor Urbanístico deveria exigir reserva de áreas permeáveis. Vejo condomínios com casas milionárias em bairros novos, todas só concreto, só cimento. Mansões encostadas umas às outras.
Onde a consciência ecológica dos ricos?
Mas os mais pobres merecem proteção especial. Erradicar a ocupação perigosa. Identificar as áreas mais vulneráveis. Ter coragem de desfazer ocupações clandestinas e reservar o espaço para fazer florestas urbanas.
É difícil? Claro que é. Vai enfrentar a crítica dos que costumam “mandar” na cidade, que submetem a seus interesses econômicos? Também. Mas isso é o que um prefeito deveria fazer nos próximos quatro anos. Se quiser que a cidade continue a ser exemplo de qualidade de vida. E pensar seriamente no perigo que corre a Serra do Japi. Mas isto é assunto para outra reflexão.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)