28 de outubro de 2024
OPINIÃO

Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio


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Como um sapato que não cabe no pé, de maneira nenhuma, mas se força pra que caiba para prolongar seu uso, foi a receita do projeto para o Hospital São Vicente que ocupa a parte histórica do Edifício sede da “Fratelanzza Italiana”, antiga Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio, que tem a fachada tombada e que foi, visivelmente, desrespeitada.

?E o que o que se pretende é aprovar uma concepção de reforma que não tem nenhuma consideração pelo bem que está tratando, nem para qualquer prédio público. Um projeto medonho que insistem em realizar. Aliás, já sendo executado sem a aprovação do Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural e agora quase que sendo forçada à análise pelos conselheiros.

?A formação de associações italianas de Mútuo Socorro no Brasil foi parte importante da experiência migratória dos milhares de italianos que se estabeleceram temporária ou definitivamente no país a partir de 1860. De 1870 a 1935, existiam 34 na cidade de São Paulo, sendo quatro em Jundiaí. A maioria se extinguiu na década de 1920 e teve grande importância na organização dos imigrantes e dos operários imigrantes italianos e suas famílias. Essas sociedades foram precursoras do SUS, pois não havia atendimento médico fora dessas associações, também tiveram um papel associativo e político importante na cidade, reivindicando obras e melhorias no bairro até participações em greves operárias, como escrevi em meu artigo neste jornal e publicado no dia 25/03/2023.

?O edifício “está listado no Inventário de Proteção do Patrimônio Artístico e Cultural de Jundiaí (IPPAC) com o Grau de Proteção 02, destinado aos elementos arquitetônicos dos imóveis representativos de determinado período histórico e respectiva técnica construtiva; também está inserido no Polígono de Proteção do Patrimônio Histórico” e tem todos os valores para ser conservado e preservado.

?A praça em frente, pronta com sua configuração, já perdeu todos os desenhos que caracterizam o lugar, inclusive com áreas agora concretadas, onde antes haviam muito mais áreas de absorção de chuva. O que acontece na cidade, e com os sucessivos governos, é que na ausência de manutenção as praças decaem até o limite para serem reformadas e entregues para a população novinhas, o que só demonstra que não foram devidamente cuidadas.

?Os Conselheiros que foram informados desse projeto na última terça-feira, insisto, não tiveram o tempo necessário para a avaliação, nem para a formação de grupo de estudo para um parecer. O acúmulo de funções gera, inevitavelmente, conflito de interesses. Não houve o rito convencional de colocar em pauta previamente para análise, mas de última hora abriu aos conselheiros que, em maioria representantes do poder público, aceitaram discutir o projeto.

?Ocorre que as intervenções são péssimas e já acabaram com a lateral onde se situava a maternidade do Hospital. O lugar está com enormes interferências de plástico azul, o que concorre negativamente com o bem, e contraria as posturas do conselho em relação ao emprego desse material nas áreas de comércio no Centro Histórico.

?Como por diversas vezes, inclusive em meu artigo do dia 25/03/2023, alertei o Compac para que intercedesse e parasse as obras na fachada da antiga Casa de Saúde Dr. Domingos Anastácio, mas nunca foram aceitas. As obras não pararam e agora se pretende aprovar às pressas esse projeto que, lamento pelo arquiteto responsável, não é de restauração e não respeita nenhuma carta internacional que recomenda ações de projeto em área de bens tombados. As peças se sobrepõem grosseiramente ao bem. Triste final de um bem histórico.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)