Qual a função de uma emoção?
Já pensaram nisso? Quando escrevo “função” refiro-me à utilidade do ponto de vista biológico, ou seja, o objetivo que justifica a existência e a evolução biológica daquela emoção. No colóquio: o que a emoção traz “de bom” para o organismo?
Uma resposta emerge sem esforço quando pensamos em emoções como o nojo, por exemplo. O nojo (ou asco) é uma emoção básica e serve para sinalizar para o organismo que ele entrou em contato com algo que não lhe faz bem, de conteúdo tóxico. Tem até mesmo um “padrão” de contração involuntária dos músculos da face específico do nojo, subindo a asa do nariz e franzindo a boca, onde se alerta outros membros do grupo sobre essa emoção. Depois, na evolução, aprendemos a ter “nojo” de pessoas e atitudes, muitas vezes igualmente tóxicas para nossa vida e fazemos a mesma cara com eles.
Com o medo o raciocínio não é tão simples. Como fica um indivíduo que experiencia um forte medo? O que ocorre com o seu corpo?
Instantaneamente, o indivíduo se sente “congelado”, sem ação, quase mesmo sem precisar respirar, de tão quieto que se apresenta. Uma certa palidez na pele mostra que o seu sangue está escolhendo um “caminho” para o interior do corpo, ao mesmo tempo que se distancia da pele, como expresso na frase “ficou branco como se tivesse visto um fantasma”.
Como isso se encaixa? Evolutivamente, quando subitamente encaramos uma ameaça contra a qual estamos desprovidos de possibilidade de reação ou enfrentamento, aprendemos que o melhor para sobrevivermos é … ficarmos quietos, tal como se estivéssemos mortos.
Por um olhar de ser humano moderno isso pode parecer pouco funcional, mas vejam que muitos predadores têm seu instinto aguçado por presas que se debatem, que lutam (inutilmente) ou mesmo que fogem. Ao passo que um ser inerte, pálido, que mal respira está mais próximo de um cadáver e chama pouca atenção (predadores não se interessam por cadáveres, em geral).
Hoje em dia, contudo, o ser humano não é um animal passível de ser predado, como já um foi dia, porém, o mesmo instinto é ativado involuntariamente diante dos nossos medos mais primais, ameaçadores da vida.
Vamos a um exemplo? Conversemos sobre câncer! Vamos falar sobre as propensões genéticas e hereditárias que todos “ganhamos” para alguns tipos de câncer. Garanto que alguns dos meus leitores(as) já não estão mais “corados”…
O câncer sempre carregou um poder de nos aterrorizar por ser uma doença quase sempre fatal (mas isso é uma ideia desatualizada) pelo qual todos os esforços de combater são inúteis (outra desatualização: os tratamentos melhoram a cada dia) e que pode escolher “atacar” alguém de forma aleatória e mesmo injusta (olha o termo “predatório” aí!).
Coloquei de uma forma bem “caricata” para ressaltar o motivo pelo qual a nossa sensação de impotência (e o medo) é despertado por essa palavra, câncer. No entanto, é pouco lógico sentir-se amedrontado, uma vez que várias atitudes podem ser tomadas para diminuir o potencial de manifestação de um gene em forma de doença.
Não somos presas indefesas.
Temos muito que fazer, a começar por nossa disposição em assumir novas atitudes. Quanto mais se priorizar no sentido da saúde e da sua própria realização mais terá a presença do seu próprio poder e menos sentido fará a emoção do medo neste contexto.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)